Este não é um artigo sobre concursos

Tem momentos em que, embora saibamos direitinho o que fazer, bate um medo danado do fracasso. É complicado imaginar um grande projeto de vida dando errado. Uma frustração barra pesada pode acabar com a auto-estima e, consequentemente, com a vida de uma pessoa.

Nessa hora, temos duas escolhas: ou enfrentamos o medo e metemos as caras ou nos acovardamos e tentamos nos conformar com projetos de vida menores. Engolimos o desejo, a vontade, o sonho; digerimos mal; transformamos o que era tão incrível e, ao mesmo tempo, factível, em uma bobagem que, na verdade, “eu nem queria mesmo”. Pra isso, vale uma considerável dose de auto-convencimento e uma pitada de argumentos vazios. No final das contas, você queria sim. E como queria. E não adianta ser blasé e arrogante na tentativa de desmerecer aquele docinho maravilhoso que te esperava, ladeira acima, após anos e anos roendo osso. Se você se contentou com aquela laranjinha-pêra meio sem graça que encontrou no meio do caminho, não venha tentar me convencer de que ela é mais gostosa.

Mas como a vida é longa o suficiente para fazermos e refazermos planos, em boa parte dos casos há tempo de recomeçar. Pois é: um belo dia, você resolve parar de chupar a tal laranja e, mais uma vez, levantar a cabeça pra ver aquele quindim amarelinho (ou chocolate belga, fica a critério do leitor) te esperando lá em cima. Isso geralmente acontece quando você não consegue mais viver com aquela limitação: é o momento em que, estagnado na zona de conforto, acorda todos os dias e sente que continuar caminhando é uma questão de sobrevivência. Ainda assim, acredite, você pode continuar fechando os olhos e se entregando a uma existência medíocre (sem esquecer, claro, que a sua laranja aguada pode ser o quindim do seu vizinho de baia, e vice-versa). Depois, não venha se queixar de que anda deprimido, que não vê sentido em tudo o que “construiu” etc. A vida te deu mais de uma chance de fazer a escolha certa; se você resolveu esperar a velhice pra chorar o leite derramado, problema seu.

Como eu disse lá no título, este artigo não é sobre concursos. Falo da vida.

Tenho uma amiga que, pra mim, é um exemplo vivo de quem sabe o que quer. Ela é uma das pessoas mais bonitas e inteligentes que já conheci em toda a minha vida. Culta e bem-educada, poderia ser qualquer coisa que desejasse. Começou a dar aulas de inglês tão logo completou 18 anos, e logo percebeu que aquilo lhe dava muito prazer – muito mais do que teria ao fazer uma grande carreira acadêmica ou internacional. Entre grandes voos e formar uma família feliz numa cidade de médio porte, preferiu a segunda opção. Quando conversamos sobre o rumo que nossas vidas tomaram, jamais nos julgamos. Seguimos por caminhos bem diferentes por opção, num mundo em que todas as oportunidades nos foram dadas. Ficou, entre nós, o afeto e o carinho de quem dispõe de algo cada vez mais raro nos dias de hoje: autoconsciência.

Resumo da ópera - Este artigo não é sobre concursos, mas se você, concurseiro, quiser utiliza-lo para essa finalidade, sinta-se à vontade.

FLAVIA CRESPO, servidora pública federal, concurseira e pensadora da vida e de outras coisas importantes.

IMPORTANTE - Os textos publicados nesse blog são de inteira responsabilidade dos seus autores em termos de opiniões expressadas. Além disso, como não contamos com um(a) revisor(a) de textos, também a correção gramatical e ortográfica é de inteira responsabilidade dos mesmos.

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3 Response to "Este não é um artigo sobre concursos"

  1. simplifique says:

    olá, que sites vc recomenda para estudo on-line?
    obrigado

    Muito bom Flávia!!!

    otavigomes says:

    Muito legal esse artigo, me fez refletir bastante.
    Acho que vou usá-lo em concursos.

    Ahh! Se puder dê uma olhada no meu site.

    http://ncursos.jimdo.com

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