A frieza do concurseiro sério

Deparar-se com situações-limite, na vida, não é nada agradável. O ser humano sempre quer sossego, independentemente da situação, e não gosta de viver um turbilhão de informações ao mesmo tempo. O concurseiro já se expõe a tantos sentimentos, vividos de forma muito intensa. Cabe a ele administrar essas circunstâncias, de modo a não se deixar levar pelo que experimenta, tanto de alegrias como de dissabores. É hora de aprender a desenvolver certa frieza.

Quando se fala em “frieza”, a primeira figura que costuma vir à mente é a de um assassino, “frio e calculista”. O sentido de ser “frio” acaba sendo mal interpretado. Em muitos momentos, sobretudo relacionados à vida profissional, a pessoa precisa agir com prudência, inclusive para não pôr a perder seu respeito e imagem. E essa prudência é acompanhada, bem de perto, com um controle emocional mais rígido. Imagine-se um militar chorando diante de seus subordinados em pleno combate: seria terrível! Assim, desenvolver uma personalidade mais tranquila ajuda, especialmente para atravessar momentos difíceis, ou mesmo de incertezas.

Confesso que, com o passar dos tempos, uma coisa que me irrita na vida de concurseiro são aqueles concorrentes que são ansiosos para tudo. Seja para a publicação do edital, os locais de prova, a data da prova, o começo do certame, a divulgação do gabarito extraoficial (sem contar o preliminar), até a exibição da lista de aprovados, a ansiedade é muito grande. Com o passar do tempo, esses “marinheiros de primeira viagem” vão experimentando fracassos, derrotas, lamentações, tristezas, frustrações, e começam a entrar no difícil prumo de uma vida nada fácil que cada concurseiro sério deste País enfrenta. Enquanto isso, os ansiosos continuam a criar expectativas por vezes fantasiosas e, ao verem que perderam a vaga por terem deixado de fazer “apenas mais uma questão”, recolhem-se em dúvidas, desânimo, ou até desespero por sua condição. A ansiedade, portanto, é um dos sentimentos mais inúteis que o ser humano pode nutrir, ainda mais quando investe numa trajetória que promete frutos, apenas a médio e longo prazo.

O concurseiro sério precisa aprender a lidar com as perdas. São muitas, e experimentadas diariamente por quem está nessa “profissão”. Perde-se convívio social, oportunidades de lazer e até de empregos que poderiam equilibrar as despesas, o descanso certo no final de semana, ou mesmo a paciência por esperar tanto tempo por um resultado que custa a chegar. E de que adianta experimentar esses sentimentos? Vale a pena sofrer tanto por uma aprovação?

É preciso dar um basta a todo esse conjunto de emoções, e encarar a vida de concurseiro de modo diferente. Para que sustentar preocupações, com algo pelo qual se luta diariamente? Ora, o resultado é fruto do esforço aliado à oportunidade, então ele virá. Se não passo hoje, tenho que ser “calculista” e buscar ver as minhas falhas, para que amanhã eu faça uma prova melhor. Se eu passei, tenho que ser prudente, especialmente se aquele não for o “concurso dos sonhos”, para que ele não bloqueie as minhas futuras investidas nesse ramo.

Investir em frieza, diante de uma vida tão conturbada, é medida de prudência. Assim, há uma cabeça mais livre, não para meditar sobre o que passou, mas para seguir adiante rumo à investidura.

Resumo da Ópera - Uma dose de frieza no dia-a-dia e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

CLEBER OLYMPIO, concurseiro aprendendo a se desligar de sentimentos inúteis.

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