Point of no return


Ontem foi publicado o resultado do concurso do Ministério da Fazenda, realizado não faz muito tempo, e para o qual me inscrevi e prestei prova. Infelizmente não fui um dos felizes nomeados, mas saiu dessa derrota com a cabeça erguida, pois lutei com honra e também perdi com honra. Além disso, não apenas perdi, mas ganhei muito prestando esse concurso.

Duas coisas me derrubaram nesse concurso:

1 – Nunca tinha estudado Direito Tributário, matéria de peso dois no certame, e tive bastante dificuldade no meu primeiro contato com a matéria. Sinceramente, passei mais tempo aprendendo a estudar a matéria e entendendo seus conceitos básicos que realmente estudando a fundo os tópicos especificados no programa.

2 – Fui prejudicado pelas mudanças de gabarito, o que me fez perder alguns pontos preciosos.

De qualquer maneira, fiquei muito satisfeito com meu desempenho no certame e, também sinceramente, não esperava que fosse um dos nomeados, afinal de contas, não estava mesmo preparado para enfrentar concurseiros que já vinham estudando Direito Tributário há meses.

Só que uma derrota é uma derrota, por mais esperada que fosse. Dói, deixa a gente para baixo, deprimi, nos faz pensar se somos tão bons quanto pensamos, se sabemos tanto quanto achado ou precisamos, nos faz duvidar se realmente temos potencial para vencer. Se tem uma coisa para a qual derrotas assim são bem vindas, é para nos fazer calçar as “sandálias da humildade”, nos fazer descer do “salto alto”. E podem ter certeza de que um concurseiro humilde está muito mais próximo da vitória que um concurseiro cheio de si.

Vocês já ouviram falar na expressão “point of no return”, traduzindo, “ponto de não retorno”?

Point of no return é o ponto além do qual alguém ou um grupo de pessoas deve continuar em seu curso de ação, quer porque voltar atrás é fisicamente impossível, quer porque fazê-lo seria proibitivamente caro ou perigoso. O termo também é usado quando a distância ou os esforços necessários para a volta seria maior do que o necessário para empreender o resto da viagem ou da tarefa que se propôs fazer.

Essa expressão é muito usada na Astronáutica para designar o ponto na trajetória de uma nave espacial onde o combustível disponível não é suficiente para trazê-la para o ponto de origem. Passado esse ponto a nave tem duas opções, continuar ou continuar, pois voltar não é mais uma opção viável.

Concurseiros também têm um ponto desse tipo. Diferente para cada um, é o ponto onde já se investiu tanto tempo, recursos e esforços para estudar para concursos públicos que não vale mais a pena abandonar tudo e tentar outra alternativa profissional. Eu já atingi esse ponto faz tempo. Tenho 37 anos, estou estudando há dois anos, então largar tudo e tentar voltar para a iniciativa privada seria suicídio. Como diz um amigo concurseiro (já empossado e feliz no cargo), “como é que você vai explicar o que fez nos últimos dois anos?!”.

Imagine-se um gerente de alguma empresa entrevistando uma pessoa como você. Quando pergunta o que o cara fez nos últimos anos, ele te responde que estava estudando para concursos públicos. Você vai concluir duas coisas, ou o cara já passou em algum concurso e está apenas esperando ser nomeado (enquanto isso ganhar alguma coisa trabalhando não é nada mau) ou então o cara é um vacilão, não estudou direito, não passou em nada e agora está desistindo (e empresa nenhuma quer contratar vacilões).

Resumo da ópera – Quando você sofrer alguma derrota na guerra dos concursos públicos e pensar em desistir, pare e pense com cuidado se você já não atingiu seu point of no return, pois se atingiu, desistir será uma derrota ainda maior e com conseqüências mais nefastas. A derrota faz parte da guerra, é sendo derrotados que pavimentamos nosso caminho para as vitórias. O que aprendi de Direito Tributário ninguém me tira e no próximo concurso que cobrar essa matéria, estarei muito mais bem preparado e serei, aí sim, um candidato com chances reais de vitória.

Charles Dias é o Concurseiro Solitário.

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CLIPE DO DIA

O clipe de hoje é de uma música que foi um grande sucesso nos anos 80 na voz de Peter Schilling e chama-se "Major tom". Procurem a tradução da letra, é muito legal.

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