A longa espera dos vencedores

“Abandonei o trabalho no início desse ano para só me dedicar a estudar para concursos da área de TI (Tecnologia da Informação). Não me arrependo de jeito nenhum de ter feito isso, e sei que fiz a coisa certa (para o meu caso). Fui classificado num concurso de cadastro de reserva numa posição relativamente boa, e isso me deu mais segurança de que algum dia serei chamado. No entanto, até agora (o concurso foi a mais ou menos 6 meses) ninguém foi chamado. Estou mantendo um ritmo de estudo bom, em média 6h líquidas por dia, mas mesmo assim me bate de vez em quando aquele medo: "e se demorar muito pra eu ser chamado"? Essa pra mim nem é a grande questão. O ponto é que eu estou considerando que só estarei apto a disputar uma vaga num concurso bom lá pro final desse ano (de acordo com minhas estimativas), mas vi recentemente que em ano de eleição não pode haver nomeação em nenhum concurso (federal e estadual) 3 meses antes da eleição até Janeiro do outro ano: ou seja, entre Jul/2010 e Jan/2011 ninguém pode ser nomeado.

Não sei se isso é comum, mas me considero um pouco pessimista, e fico sempre pensando no plano B: e se não der certo? Se não conseguir passar em nenhum concurso? E se tiver que recorrer a voltar a iniciativa privada? Na minha área.. ficar mais de um ano parado é ruim, e pode ser difícil arrumar emprego de novo nessa situação (como explicar o tempo parado numa entrevista de emprego?). Por que eu fico com esse medo e sempre fico pensando nos "planos B" ? Tento ser positivo, mas diante desse fato que falei (das nomeações em ano de eleição) começo a achar que não vai haver quase nenhum concurso em 2010.

O que você acha? Me ajuda!

Só quero deixar claro que não me arrependo de forma nenhuma de ter abandonado o emprego, porque agora que estou só estudando vi que estudo umas 10x mais do que se estivesse estudando/trabalhando.”

Recebi esse mail desesperado de um colega concurseiro leitor do blog ainda ontem ... bem num daqueles dias em que eu mesmo sentia esse tipo de angústia.

Minha história não é muito diferente. Trabalhava na iniciativa privada, área financeira, e simplesmente não gostava do que fazia. Sou formado em Economia pela USP e nunca me agradou ser um “planilheiro”, ou seja, trabalhar o dia todo construindo planilhas em Excel, ou seja, algo beeemmm diferente do que aprendi na faculdade e muito aquém do que pensava em ter como profissão. Descobri, bem amargamente, que somente poderia ser, realmente, um economista, trabalhando com análise de variáveis econômicas e de mercado, depois de algumas décadas de trabalho planilheiro e se tivesse muitos bons contatos, muitos QIs. Aliás, os tais QI sempre me incomodaram muito, não acho que sejam justos, pois acredito que a pessoa deva ser analisada por sua formação, por seu conhecimento, capacidade e realizações, não por seus contatos pessoais. E havia também, é claro, a questão salarial. O mercado, simplesmente, paga muito menos do que seu trabalho vale. Quer ganhar mais, então puxe saco ... também não concordei com essa prática. Então um dia me cansei de tudo isso, ouvi os conselhos de meu pai e de um amigo que já estava no setor público, e que não via fazia algum tempo, larguei tudo e comecei a estudar.

Nesse mês, de maio, completo dois anos de luta na guerra dos concursos públicos em tempo integral. Tenho na manga vários concursos nos quais não passei, dos quais guardo apenas a experiência positiva ganha, e quatro concursos nos quais estou muito bem colocado, apesar de não estar dentro do número de vagas. Apenas um desses concursos já publicou nomeações, os outros três estão travados por recursos, demoras e tal por meses, um deles desde há mais de um ano. Ou seja, compartilho da situação do amigo que enviou o email que abre esse artigo, com um pé num cargo público e outro na casca de banana ... hehehe. E devo confessar que, realmente, é muito ruim viver como que no meio de uma tempestade de areia, onde não vemos muito adiante de nós, não sabemos se nosso objetivo está próximo de ser alcançado ou ainda algo distante.

Daí pergunto, há como não ficar um pouco pessimista vivendo incertezas sem fim? Incerteza de que se está estudando suficiente, de que se está tomando a decisão correta, de que se está indo bem o suficiente nas provas, de que se vai ser chamado, de que se vai gostar do trabalho no serviço público. Acho que somente numa época de nossas lutas na guerra dos concursos públicos não ficamos um pouco pessimistas, naquela fase de animação absoluta do começo dos estudos, naquelas primeiras semanas de estudo em que achamos que podemos tudo, que logo seremos nomeados, empossados e viveremos felizes para sempre.

A questão não é se é certo ficar pessimista ou não, visto que isso é fato inevitável de nossa luta, a questão é como combater esse pessimismo, não deixá-lo atrapalhar nossos estudos, minar nossa moral, esvaziar nossa motivação, nos fazer desistir de lutar. Há muitas maneiras de fazer isso. Eu, como já disse em artigo anterior, queimei meus navios para não ter volta, vou para o serviço público de um jeito ou de outro. Como queimei meus navios? Simples, abandonei definitivamente toda e qualquer possibilidade de voltar a trabalhar na iniciativa privada. Claro que não é necessário ser tão extremo, mas também não se pode ser tão descuidado.

O tal do “plano b”, em minha opinião, que é um problema. Lutar pensando numa escapatória é lutar pela metade. Evitar isso é fácil, trabalhe com prazos. Defina um mês até o qual você estudará em tempo integral com força total, digamos, julho do ano que vem. Definido isso, não pense mais no assunto até tal data. Simples? Sim. Fácil de implementar? Nem tanto. Necessário? Absolutamente necessário.

Não adianta, gente, não é por conta de crise nenhuma que vencer na guerra dos concursos públicos, ou seja, sem empossado em um cargo público, é coisa demorada, difícil, extenuante. Sempre foi assim. Há, claro, casos de concursos muito rápidos em que os aprovados são nomeados e empossados a toque de caixa, mas essas são exceções à regra. Como já disse, estudar para concursos públicos exige disciplina, persistência, planejamento, humildade e paciência.

Resumo da ópera – Para o amigo do email dou um conselho. Pare tudo o que você estiver fazendo, agora mesmo, e analise com cuidado se vale a pena você continuar a lutar na guerra dos concursos públicos. Quando você for empossado você acredita que se sentirá realizado profissional e pessoalmente? Você fará o trabalho que você gosta? Você ganhará bem o suficiente para realizar seus sonhos? A estabilidade que você terá compensará os esforços presentes? Se você responder a sim a todas essas perguntas, então defina um mês para o ano que vem até quando você estudará com força total, fará o máximo de concursos na sua área que puder, e então, se ainda não tiver sido empossado, voltará para o mercado privado, sem deixar de continuar estudando, é claro.

Charles Dias é o Concurseiro Solitário.

IMPORTANTE - Os textos publicados nesse blog são de inteira responsabilidade dos seus autores em termos de opiniões expressadas. Além disso, como não contamos com um revisor(a) de textos, também a correção gramatical e ortográfica é de inteira responsabilidade dos mesmos.

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CLIPE DO DIA

Hoje é dia de dar umas risadas ... o clipe é muito engraçado e a música é muito legal. Com vocês o som de Electric Six com "Danger! High Voltage".

1 Response to "A longa espera dos vencedores"

  1. Marina says:

    Eu acredito que algo muito bom está reservado pra você. Não acompanho seu blog mas hj dei uma passada por aqui e so penso que alguém com essas ansiedades ainda resolve auxiliar outras pessoas só pode ter algo muito bom pela frente.
    Que Deus abençoe sua caminhada

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