Diplomacia comme Il fault

Há alguns dias, os amigos do CS me sugeriram que escrevesse um artigo sobre o Concurso de Admissão à Carreira Diplomática - a famosa prova de ingresso no Instituto Rio Branco. Confesso que, quando recebi a proposta, fiquei bastante reticente, literalmente na defensiva. Houve, porém, um fato fez com que o desejo de escrever se tornasse maior do que o receio. Hoje à tarde, fui questionada por alguém que, em área totalmente diferente da diplomacia, também segue uma carreira de Estado, sobre o porquê de estar exercendo o cargo público que hoje exerço, apesar de ter tanta qualificação. Na hora, pensei em várias respostas, mas a que saiu foi tão franca quanto dolorida: eu quero fazer Diplomacia.

A dor fica por conta de todas as voltas que dei, nos últimos anos, na tentativa de fugir dessa realidade irretorquível. Assim que me formei na UFF, comecei um curso preparatório pro Rio Branco, mas não cheguei a terminá-lo. As mensalidades eram caras, o curso não era lá essas coisas e, pra completar, eu estava muito confusa sobre o que realmente queria da vida. Foi nesse momento que resolvi fazer mestrado em História das Relações Internacionais. Durante os anos de estudo, me dei conta de que aquela discussão teórica era minha grande e absoluta paixão. Defendida a dissertação, decidi que era hora de começar a trabalhar, ou meu futuro seria eternamente incerto. Na época com 26 anos, iniciei minha carreira concurseira-atirando-para-todos-os-lados, engavetando mais uma vez o sonho do Rio Branco. Dois anos depois, estava aprovada em concurso e trabalhando efetivamente. Feliz? Não sei.

Entrei de coração aberto no mundo do Direito, totalmente disponível para um novo amor profissional que - ora vejam só - não aconteceu. No mês passado tive uma crise séria. Estava finalmente trabalhando, feliz por ter meu dinheiro, minha estabilidade, mas... e o futuro? Qual seriam meus grandes goals profissionais e pessoais? Entrei em pânico. Minha resistência caiu e fiquei doente por duas vezes seguidas. Disso tudo, só pude chegar a uma única conclusão: eu vou ter que encarar o concurso para o Rio Branco de novo, mais dia, menos dia.

O amigo leitor deve estar se questionando: por que, cargas d'água, eu me interessaria por saber das crises existenciais da Flavia Crespo? Eu respondo: porque as minhas crises são comuns a uma parte considerável das pessoas que almejam o Itamaraty ou outras carreiras de Estado, mas dispõem de recursos financeiros limitados e necessidades imediatas. Não é fácil se preparar por anos para uma determinada carreira, sem vida ou ganhos próprios, sob o absoluto risco de nunca lograr êxito. É uma pressão imensa, um peso danado. Dá pra entender a razão de muitas pessoas desistirem no meio do caminho.

Meses atrás, estava visitando uma amiga diplomata em Brasília e fazíamos juntas algumas reflexões sobre a trajetória dos aspirantes ao Rio Banco. Foi interessante reunir a minha visão, exógena, à visão dela, endógena. Juntas, chegamos à conclusão de que existem dois caminhos possíveis para a carreira diplomática. O primeiro deles é percorrido por aquelas pessoas que sonham há muito com o Itamaraty e, ao colar grau na universidade, internam-se no quarto e estudam por anos a fio, entre livros, cursos e que-tais, até conseguir a tão desejada aprovação. Esses ingressam no Rio Branco ainda jovenzinhos, com a mente fresca e muitos ideais. O segundo caminho, que é o da minha amiga e, quem sabe?, também o meu, é das pessoas que dão enormes voltas até chegar ao Rio Branco. Vivem experiências diversas, aprendem muito sobre o ser humano e o mundo, conhecem áreas profissionais diferentes até que, um dia, o rio finalmente corre para o mar. Como vantagem, agregam à função diplomática uma bagagem de vida rica e colorida, que vai ser de grande valia durante toda a carrière. Resta a você, amigo concurseiro postulante ao Itamaraty, decidir qual estrada quer trilhar.

Resumo da Ópera: neste artigo, optei por não abordar o edital para o Rio Branco por um motivo muito simples: este concurso, considerado por muitos o mais difícil do Brasil, não é para amadores. Quem realmente quer a carreira sabe que serão necessários anos de estudo e dedicação carinhosa para conseguir a aprovação. Se você viu o edital e se interessou, mergulhe de cabeça na bibliografia, afie seu inglês e, principalmente, não tenha pressa. Cultive a paixão com a calma dos bons amantes, para que ela se transforme em amor; é desse amor que virá a vitória maior da aprovação. Como dizem os franceses, bon courage!

Flavia Crespo é a Concurseira Crônica.

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2 Response to "Diplomacia comme Il fault"

  1. Edileida says:

    Meu caminho é o de cultivar a paixão, já estou no estágio do amor.Imagine!Sou bióloga de formação e há pouco mais de 2 anos despertou-me o desejo para a carreira diplomática, quando iniciei o estudo do francês,exclusivamente com o objetivo da carreira diplomática, tendo já na bagagem o inglês e o italiano- ainda terei q iniciar o idioma q detesto, o espanhol, mas valerá o sacrifício.E eis aqui este ano dedicando-me 24h por dia aos estudos da diplomacia.Um exame nada fácil, porém, não impossível.Férias de julho, pra mim não existe e nem em momento algum enquanto eu não for aprovada no IRBR.

    Olá Flavia!
    Como vc, passei por muitas águas até sentir o sal da diplomacia, é um veneno, quanto mais leio a respeito sobre a carreira e o desafio, mais me torno um viciado nessa conversa de diplomacia.
    Tenho uma vontade grande em poder dividir cadeiras com grandes personalidades e principalmente colocar o meu trabalho a serviço da Nação Brasileira, tem alguma dica por onde devo começar a estudar, alguma apostila?
    Qualquer coisa já será de grande valia!
    Abs,

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