Olá companheiros! Atendendo a pedidos, resolvi escrever este artigo, já que eu também sou uma concurseira canhota e sei das dificuldades adicionais que por vezes os “sinistros” têm que passar.

Inicialmente, gostaria de ressaltar que a situação atual dos canhotos é relativamente confortável em relação aos nossos antepassados com maior habilidade com a mão esquerda. Na Idade Média, éramos considerados uma espécie de bruxo, e poderíamos ser até condenados a morrer na fogueira pelo Tribunal do Santo Ofício (Inquisição). Mas, mesmo com os progressos dos tempos atuais (há alguns objetos adaptados para nós, por exemplo, apesar de não serem fáceis de ser encontrados) eu ainda conheço pessoas que obrigaram a algum filho, hoje adolescente, a escrever com a mão direita (pensamento atrasado e preconceituoso, mas sim, ainda acontece). Sem contar das histórias de nossos avós dos castigos que os canhotos sofriam nas escolas para escrever com a mão direita.

Passemos aos concursos. Nós, canhotos, não somos deficientes, é verdade, porém precisamos de uma carteira diversa dos destros para poder escrever adequadamente. Infelizmente, as organizadoras de concurso, em geral, parece que ainda não perceberam esse detalhe importante para cerca de 15% da população (é mais que o percentual de deficientes, e certamente também é uma quantidade maior dos que as mães que amamentam) e, muitas vezes, temos que pedir ao fiscal a gentileza de procurar fora de nosso local de prova a bendita carteira feita para nós. Até aí, tudo bem, só que nem sempre ele encontra a nossa carteira (por experiência própria, creio que ele não acha em cerca de 30% dos casos). Consequentemente, o pobre do canhoto tem de fazer a sua prova sentado de forma inadequada, com a grande probabilidade de terminá-la com uma dor nas costas “de brinde”.

A pergunta é: não tem nenhum canhoto nessas organizadoras para sugerir que, dentre as respostas relativas a necessitar de alguma condição especial para fazer a prova, exista um item “carteira para canhoto”? Será que 15% da população não é um número expressivo o suficiente para que eles possam se lembrar de nossa existência e proporcionar a todos uma forma mais confortável de realizar a prova? Ora, cerca de 10 % da população é deficiente, uma fatia menor que tem direito a dizer: preciso de uma condição especial, atendam-me! Então, organizadoras, os canhotos também precisam de uma adaptação especial... Atendam-nos!

Para encerrar, gostaria de dizer que a nossa condição, no máximo, gera uma dificuldade adicional na momento de realização das provas, mas nunca uma impossibilidade. Reclamemos sim, continuemos a pedir para o fiscal a carteira adequada, mas caso tenhamos que fazer a prova na carteira de destro, façamos como ao abrir latas: “missão dada é missão cumprida”, não importa o entrave pelo qual tenhamos de passar.

Resumo da ópera - É pessoal, vida de canhoto tem dos seus entraves, e um deles é faltar, às vezes, a carteira adaptada para que possamos fazer a prova. Mas isso é só mais uma pequena dificuldade que contornamos com ou sem a ajuda das organizadoras. Tomara que alguém delas leia esse artigo e acolha a minha sugestão.

MARINA SALES é uma concurseira concursada canhota que está em exercício depois da aprovação e nomeação em um dos concursos que teve de fazer a prova em carteira de destro.

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