Neste dia 22 de dezembro de 2010 uma notícia chamou atenção pela Internet. Uma moça, de 28 anos de idade, morreu em São Paulo após tentar salvar seu carro da violenta enxurrada que se formou por conta da chuva que atingiu a cidade no período noturno. Até aí nada de muito novo – afinal, diversas pessoas são vítimas das condições meteorológicas e de tantas causas trazidas numa época desfavorável de clima, como essa – mas um detalhe chamou atenção, na manchete: essa jovem estava feliz da vida, pois havia acabado de receber a notícia de que passou num concurso público para dar aula. E o que isso tem a ver conosco?

O homem sempre se pergunta, muito antes da música interpretada por Simone: “como será o amanhã?”. Por isso várias pessoas tentam, sem sucesso, aliviarem-se com cartomantes, tarô, búzios, ou sequer saem de casa sem ler o horóscopo do dia. De forma semelhante, boa parte dos concurseiros fica elaborando planos, deixando para que coisas importantes em sua vida aconteçam, caso ela passe no “concurso dos sonhos”. São horas, dias, anos de dedicação, envolvimento com matérias, estudo, simulados, provas. O envolvimento passa a ser tão grande que, aparentemente, não sobra tempo para mais nada: família, amigos, saúde e bem-estar, lazer, abrir suas ideias a novas oportunidades. Tudo passa a girar ao lado da palavra “concurso”, como se ele fosse o responsável único por uma vida digna e com diversos benefícios.

A jovem em questão também estava feliz, radiante – segundo noticiado – com a aprovação num concurso. A concretização de planos, de sonhos: isso tudo natural, muito bom por sinal. Podemos, entretanto, ver que há acontecimentos que, inesperadamente, podem colocar tudo a perder. A enxurrada pode não ser física, mas emocional: um parente que vai, um relacionamento amoroso que acaba, uma doença terminal com um amigo. Essas variáveis fogem ao controle do ser humano. E justamente por não termos controle sequer de estarmos vivos até o fim da leitura deste artigo, é que precisamos pensar.

Concurseiro, o que você tem feito da tua vida? Como você encara a tua vida: só realizar coisas com a investidura nas mãos, ou aproveitar que você tem vida, saúde, forças, relacionamentos hoje? O teu momento de vida pode não ser o melhor, a grana estar curta, a angústia e a insegurança batendo à porta quanto à possibilidade de passar ou de ficar mais um ano estudando, mas seria isso um impedimento para você, de fato, viver? Quanto que a tua vida está atrelada à vida concurseira? Quanto que você tem colocado de sonhos e objetivos realizados para somente depois da investidura, e quantas oportunidades você já perdeu, hoje, de ser diferente, de ser mais realizado, ainda que com dificuldades passageiras? Será que você não tem tratado o concurso como “passaporte da felicidade”, sem saber que alguns desistem depois da nomeação, ou mesmo deixam de viver com qualidade de vida, ou ainda morrem sem aproveitar os benefícios do cargo, dado o enorme volume de trabalho?

Sonhar é bom, desfrutar do sonho melhor ainda. Isso não indica que tudo devemos sacrificar em prol da aprovação. Um projeto não pode se tornar uma obsessão, pois aí ele já não é mais projeto e sim uma forma de conter diversas frustrações. Reflita como tem sido a tua vida de concurseiro.

Resumo da Ópera – Conta-se de uma mulher que relutava em usar um vestido azul bonito para sair, até que um dia ela morreu, e só foi usar o vestido depois de morta. De que adianta colocar a nossa felicidade toda para um momento de vida após a investidura? Aproveite o presente.

CLEBER OLYMPIO, um concurseiro aprendendo a aproveitar, hoje, novas oportunidades, antes mesmo da investidura.

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