O caminho das pedras

Lembro-me de um rapaz. Altivo, arrogante, com o ingênuo pensamento de que passaria no primeiro concurso que fizesse. Doce ilusão.

Pensava assim, porque era o primeiro da classe na faculdade. Tinha as melhores notas, obtinha elogios de todos os professores. Não foram poucas as vezes que lhe falaram: “Você terá um futuro brilhante pela frente”. O único erro era ter a certeza de que esse futuro brilhante viria tão brevemente.

E o rapaz foi com esse pensamento até o final da faculdade. Assim como muitos, pensou que seria aprovado no primeiro concurso que viesse, independente da banca, da entidade que o promovesse, achando que somente com o que aprendeu na faculdade seria o suficiente.

Para simplesmente verificar como seria a briga em um concurso de nível superior, se inscreveu e fez o certame para a Defensoria Pública da União antes de terminar a faculdade. Das 200 questões, seus 82 pontos, em razão do sistema “uma errada anula uma certa”, se transformaram em menos de 30% da prova, o mínimo a se atingir. Desclassificado de primeira.

“Tudo bem”, pensou ele. “Era só pra treinar e não desejo a aprovação em um cargo federal”. Pelo jeito, o ego desse rapaz continuou a ofuscar a realidade.

Fez o segundo concurso para o cargo de um município. Pensou ele: “Nesse eu passo! É fácil”. Fácil? Amargou o 175º lugar. Parecia que nunca aprenderia. A humildade antes de tudo, rapaz. Esqueça a soberba e o orgulho.

Isso começou a atingir aquele concurseiro. As derrotas pareciam difíceis de engoli-las. E para piorar, ele não aprendia com elas. Simplesmente se enraivecia, jogava as provas no chão e as guardava em algum lugar para esquecê-las, ao invés de pegá-las e ver o que errara para aprender! Aprender cada vez mais!

Sua hora ainda não havia chegado.

Até que esse rapaz “perdeu” a oportunidade de somente estudar o dia todo para começar a trabalhar. Ah! Como apareceram lamentações e arrependimentos! Pensava que aqueles dias todos que ficara sem estudar não voltariam mais. E o trabalho era pesado, não ligava se ele tinha que estudar para concursos. Os clientes não queriam saber! Queriam que ele trabalhasse! Foi duro.

Mas foi aí que se iniciou o aprendizado deste rapaz. Exatamente um ano após se formar, ele conheceu um certo blog. Era uma inspiração para ele. Aprendeu que não estava sozinho. Eram milhões e milhões na mesmíssima situação que ele se encontrava.

Não adiantava reclamar e amaldiçoar todo santo dia o seu trabalho. O negócio era mudar. E ele mudou. Fazia seu trabalho rapidamente, para que pudesse ter duas horas, isso mesmo, duas horas de estudo por dia.

Aprendeu a apreender com os erros. Examinava a prova depois de uma batalha vencida, para ver o que errou e nunca mais cometer o mesmo erro.

E foi neste ritmo, de duas horas por dia, que o rapaz se preparou para a prova de uma autarquia federal.

Estava com medo. Pensava nos outros que tinham todo o tempo do mundo para estudar, inclusive um amigo seu que não advogava, somente por lazer para ter os três anos necessários para os concursos.

Aprendeu a respeitar o colega “adversário”. Não mais era petulante e orgulhoso. Caiu muitas vezes para finalmente ser simples.

E foi com toda essa bagagem de experiência, colecionando muitas derrotas, que o rapaz, na primeira fase deste concurso, ficou entre as dez primeiras melhores notas. Na segunda fase, ele torcia para ficar entre os 5 primeiros. Quão grande foi a sua surpresa quando viu na lista de aprovados que ficara em primeiro lugar. Sua prova dissertativa havia sido a melhor de todas.

E foi com a somatória da primeira fase com a segunda, que este rapaz ficou em 5º lugar dentre os aprovados, e está a ponto de ser chamado.

Ele continua na luta. Quer algo melhor. Mas para o início de sua vida pública está mais do que satisfeito. Algo que ele pensou que nunca seria possível, ou seja, ficar em primeiro lugar em alguma fase de algum concurso, aconteceu.

Resumo da ópera - A única pessoa que pode colocar obstáculos e impedimentos em seus sonhos e conquistas é você mesmo. Nunca deixe uma pessoa dizer que você não pode fazer ou conquistar algo, pois o único ser humano que pode dizer isso é você. Não desista! Não agora! Pense naquilo tudo que você abriu mão para seguir esse caminho, o caminho das pedras! Fique firme, assim como o rapaz da história! Bons estudos!

Jerry Lima, um Concurseiro Profissional.

IMPORTANTE - Os textos publicados nesse blog são de inteira responsabilidade dos seus autores em termos de opiniões expressadas. Além disso, como não contamos com um revisor(a) de textos, também a correção gramatical e ortográfica é de inteira responsabilidade dos mesmos.

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2 Response to "O caminho das pedras"

  1. Camisa 9 says:

    Caraca seu texto é de arrepiar!
    Dê os parabéns por mim ao grande felizardo!
    Também era bom no ensino médio, mas as coisas mudam e a rocha é mais dura do que pensávamos antes, não é mesmo!

    Bons estudos e gambate!

    Seu texto é muito bom e bem real.
    Só aprendemos a ser concurseiros realmente o sendo. Pensamos que se formos inteligentes, se formos bons alunos na faculdade não precisamos estudar. Ledo engano. Quando percebemos esse engano, só quando o percebermos, é que, enfim, nos tornamos concurseiros. E a partir daí é que temos uma longa caminhada.
    Parabéns a esse concurseiro.

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