"Enfrento um problema sério para estudar que acredito ser também um obstáculo para muitos outros concurseiros, minha família. Moro com pai, mãe, ambos aposentados, irmã e irmão. Minha irmã é mais velha, já foi casa e depois de separar voltou a morar com meus pais, hoje trabalha como babá. Meu irmão é mais novo e trabalha em uma empresa da cidade e morre de medo de ser demitido a qualquer momento. O problema é a mistura de cobrança dos meus pais, a inveja da minha irmã e do meu irmão da escolha que fiz e que começa a produzir frutos, das cobranças de todos por um resultado imediato que não existe. De vez em quando é muito difícil manter a motivação e a cabeça fria em meio a tudo isso".

Recebi esse email não faz muito tempo de um concurseiro, que na ocasião me lembrou de uma tirinha igual a essas de jornal que vi em uma revista ou jornalzinho voltado para concursos públicos não me lembro qual, onde ou quando. Era uma tirinha tradicional de três quadros que contava uma historinha mais ou menos assim:

1o quadrinho -  Num quarto o pai fala para o filho algo assim "Nós apoiamos completamente sua decisão de estudar para concursos públicos. Eu e sua mãe estamos orgulhosos de vocês. No que você precisar pode contar conosco."

2o quadrinho - O filho todo sorridente agrace ao pai e pensa "Nada como ter um família que apoia o concurseiro".

3o quadrinho - O pai já está saindo pela porta quando diz para o filho "Só não vá nos decepcionar demorando mais de seis três meses para ser empossado",  deixando-o com uma cara que mistura surpresa, indignação e incredulidade.

Pois bem, no geral é assim mesmo, infelizmente, amigos concurseiros. A família do concurseiro tem para com ele uma relação baseada no "bom" e velho "dá com uma mãe e tira com a outra", ou seja, ao mesmo tempo em que apoiam, também desmotivam, cobram, criticam.

Não acredito, sinceramente, que há famílias que tenham somente o lado bom, que apenas apoiam e motivam o concurseiro, não, o que pode acontecer é de o apoiarem e motivarem muito mais do que criticam, cobram e desmotivam, mas mesmo que seja 10% de lado ruim, todas têm. Juro que não sei porque isso acontece, assim como nenhum concurseiro ou mesmo psicólogo tem uma resposta definitiva para a questão. Alguns dizem que pais, principalmente, fazem isso como uma forma de também impulsionar os filhos, um tipo de "motivação negativa com finalidades terapêuticas", mais ou menos como dar umas palmadas no filho que fez o que não devia para que ele aprenda que aquilo é errado, afinal de contas aquele aprendizado será importante para ele no futuro, ou seja, as palmadas (negativas) têm uma finalidade positiva.

Olhem, até acredito com reservas nessa história de "palmadas terapêuticas", mas acredito que muitas vezes os pais criticam e desmotivam pelo simples fato de que no fundo também pensam que os filhos têm um quê de vagabundos por não estarem batalhando no mercado de trabalho da forma tradicional, mandando currículos e fazendo entrevistas, preferencialmente fazendo isso enquanto se está trabalhando em outro lugar. Agora, quanto a irmãos, tios, primos, sobrinhos e por aí vai, rola mesmo é a crítica negativa e a inveja pura, de um lado porque é fácil criticar e desmotivar quem está em uma posição desvantajosa (como o concurseiro que ainda não passou em nenhum concurso público e/ou ainda não foi empossado), de outro porque se vêem que o concurseiro está mesmo estudando sério, no fundo também sabem que é uma questão de tempo até que obtenham a vitória, sejam empossados e alcancem um objetivo que eles mesmos sabem que não teriam condições de alcançar pessoalmente, então criticam para se sentirem um pouco melhores, pelo menos até que a posse não venha.

E vou dizer uma coisa para vocês, paz para o concurseiro só com assinatura do termo de posse, porque não importa passar em nenhum concurso público em ótima colocação, dentro do número de vagas do edital e tal apenas, porque para quem não está também lutando na guerra dos concursos públicos, apenas a posse  importa, o resto continua sendo motivo para críticas, cobranças e desmotivação.

O que fazer para enfrentar esse "apoio" familiar? Bem, o melhor conselho que posso dar-lhes é "não dê ouvidos para essas pessoas". Procure filtrar e deixar passar apenas os comentários positivos, apenas as palavras de motivação e tal, agora, procure ao máximo barrar as críticas, as cobranças, as palavras que desmotivam. Claro que isso não é fácil, mas a não ser que você vá morar a algumas boas centenas de quilômetros distantes dos seus pais, irmãos e demais familiares enquanto estudar para concursos públicos e não é empossado, então não há outra forma de lidar com a questão.

Resumo da ópera - São muitas as dificuldades que o concurseiro sério tem de enfrentar em sua luta, algumas delas vêm de fontes inesperadas (ou nem tão inesperadas assim) como a própria família, mas se existem têm de ser enfrentadas da melhor forma possível, pois no final o que realmente importa é apenas a vontade ferrenha de vencer a guerra dos concursos públicos.

Charles Dias é o Concurseiro Solitário.

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