Raquel Monteiro entrevista Baltazar Rodrigues

Olá, concurseiros! Hoje eu tenho o prazer de entrevistar Baltazar Rodrigues, aprovado no concurso de procurador do estado do Rio de Janeiro.

Baltazar foi colega de faculdade de alguns amigos meus, o quais lembraram que sou colunista deste site e sugeriram esta entrevista. Obrigada, amigos que colaboram com nosso querido blog!

Nosso entrevistado, por sua vez, respondeu gentilmente às minhas perguntas de forma muito didática e detalhada. Eu realmente mudei minha visão sobre o concurso da procuradoria. Antes desse bate-papo com Baltazar, eu pensava que era exigido um conhecimento jurídico muito mais profundo do que o realmente necessário. De fato, o concurso é difícil, mas é possível ter sucesso se houver esforço. Vejam a entrevista abaixo.

1 - O que te motivou a estudar para um concurso tão difícil como o de Procurador do Estado do Rio de Janeiro?

O que mais me motivou foi o carinho e o amor que eu acabei adquirindo pela instituição. Fui estagiário da PGE durante 2 anos (de junho/06 a junho/08) e eu gostava muito. Tinha muito trabalho, mas todos eram muito amigos (procuradores, funcionários, estagiários). Depois a PGE abriu concurso para Residente Jurídico (para aqueles recém-formados em Direito). Prestei o concurso, passei e fiquei na função por 10 meses (de novembro/08 a setembro/09), até tomar posse em outro concurso. Agora em julho/2010 estarei de volta, para exercer o cargo de Procurador. É muito gratificante, porque, como se pode ver, foi um longo processo de "amadurecimento". Eu costumo dizer que tudo (desde um dia comum até toda a sua vida; desde um bilhete num papel de pão até um recurso extraordinário) tem começo, meio e fim (3 fases bem distintas): você inicia o caminho, vai se preparando, para no final conseguir algo. Acho que nessa pequena história que eu relatei foi possível ver essa idéia claramente. Disso se pode depreender outra noção, de que nada vem por acaso, de que tudo é fruto da sua determinação.

Outro motivo para fazer o concurso da PGE/RJ foi que eu sempre tive predileção por matérias relacionadas a Direito Público: Administrativo, Tributário, Processo Civil. Meu foco em termos de concurso sempre foi a advocacia pública por conta disso (AGU, PFN, PGE, PGM). Isso não é determinante (há pessoas que passam sem entender essas matérias), mas certamente acaba ajudando.

2 - Como você planejou seus estudos?

Estudo é algo muito pessoal, e não necessariamente o que dá certo pra um acaba dando certo pros demais. Não existe fórmula mágica ou pote de ouro no fim do arco-íris. Essa é a única certeza que eu tenho quanto a isso. Mas eu pude notar alguns pontos que são comuns às pessoas que têm êxito.

Primeiro, nada de desespero. É muita matéria pra estudar? Sim, sem dúvidas. Mas, como eu disse antes, tudo tem começo, meio e fim. Vai levar um tempo pra abranger todo o programa (ou boa parte dele, o que é muito mais provável), mas uma hora isso acaba acontecendo. Portanto, sem despero e nada de desistir.

Segundo, organização. Eu sou extremamente desorganizado, mas vi que isso seria um grande problema com os estudos. Solução: encarar o problema de frente e montar uma estratégia. Conversando com algumas pessoas mais experientes (meus ex-chefes, por exemplo), vi que não era preciso um estudo muito aprofundado para passar em 90% dos concursos (afinal, concurso não é prova de mestrado) - e, convenhamos, conseguir passar em 90% dos concursos já é um feito. Assim, escolhi 1 livro de cada matéria (pode ser qualquer um, desde que você goste da linguagem), que eu lia uma parte dele todo dia. A cada dia, eram 3 matérias. Quando terminei o curso que eu fazia (quase 10 meses depois que comecei a estudar com afinco), passei a ler principalmente o caderno, apenas complementando de vez em quando com os livros (como podem imaginar, a essa altura eu já os tinha lido várias vezes, o que facilitou a apreensão e a manutenção das informações).

Terceiro, repetição. De nada adianta ler um excelente livro uma vez na vida. A menos que você só precise usar aquele conhecimento pra uma prova específica, leia seus livros diversas vezes. Consequencia natural: a informação vai ser lembrada com mais facilidade, especialmente na hora da prova. E, ao usar apenas 1 livro pra cada matéria (como eu falei acima), a sua memória visual será facilitada (parece algo pouco importante, mas não é). Então, juntando as informações que temos, você pode perceber que eu lia uma parte do livro de cada matéria por dia. Ficava mais ou menos assim: segunda e quinta -> civil, empresarial e processo civil; terça e sexta -> tributário, constitucional e trabalho; quarta e sábado -> administrativo, financeiro e processo do trabalho. Eu dividia cada matéria (no caso, pelas páginas dos livros de cada uma) de uma forma que todas elas eram lidas num determinado espaço de tempo (digamos, em 2 meses). Quando eu terminava, adivinhe, eu recomeçava tudo. Conclusão: num espaço de 1 ano, eu teria revisto todas as matérias várias vezes, o que ajuda muito.

Quarto, disciplina. Montou a estratégia, ela tá dando certo, beleza. Tem que cumprir, a ferro e a fogo. Pode compensar estudando mais num dia e relaxando mais em outro, mas o quadro tem que fechar. De nada adianta uma belíssima estratégia no papel que não se concretiza na prática. Tem que ser disciplinado e determinado.

3 - Quais foram as maiores dificuldades que encontrou em sua trajetória?

Acho que as mesmas de todos: falta de dinheiro pra comprar livros, falta de motivação, chateação causada por algumas pessoas impertinentes. Esse é um ponto importante, porque muitos acham que quem passa em concurso não enfrenta dificuldades (eu até brinco dizendo que parece que a pessoa acordou um belo dia e pensou: "Por que não fazer uma prova pra juiz? Estou aqui de bobeira em casa, sem nada pra fazer... Até que é uma boa..."), especialmente sobre falta de motivação.

Muitos me perguntam: "Você alguma vez pensou em desistir? Em largar tudo?"; resposta categórica e imediata: "Com certeza. Na verdade eu pensava nisso todo santo dia ao acordar". E não é mentira, isso é sério. Mas o mais importante não é não pensar em desistir, mas sim qual a sua atitude diante disso. Eu particularmente sempre tive em mente que desistir era o pior caminho, que um belo dia o meu esforço certamente seria recompensado (é o processo de começo, meio e fim); mas para isso acontecer, eu tinha que colaborar (estudando e não desistindo no meio da jornada).

4 - Que estratégias deram certo e quais deram errado nos seus estudos?

Deram certo:

a) repetição dos conteúdos;

b) disciplina;

c) não dar ouvidos àqueles que queriam te perturbar (acredite, a maioria das pessoas não faz nenhuma idéia do perrengue que a gente passa e, pior, não quer fazer idéia, pois não tem a coragem necessária pra sentar e estudar - afinal, ficar procurando caminhos alternativos é mais fácil, não?).

d) ter foco (sair atirando pra todos os lados não é algo que costuma dar certo).

Deram errado:

a) não estudar alguns conceitos básicos (geralmente a gente acha que já sabe eles de cabeça, e na hora da prova escrita ou da prova oral fica perdendo tempo pensando; é algo que já deveria ser repetido também, junto com o conteúdo geral);

b) estudar de forma desequilibrada (eu estudei menos civil e empresarial; são matérias que eu já tinha dificuldade e que devia ter estudado mais, mas que acabaram ficando em segundo plano).

5 - O concurso que te deu vitória tem diversas fases. Cada uma delas exigiu de você um método de estudo diferente? Quais você adotou para cada uma?

O meu método "geral" de estudos sempre foi o mesmo: repartir as matérias em pontos para estudar um pouco a cada dia e depois poder repetir. Eu procurei sempre manter esse ritmo, como se fosse um "básico".

Para a prova da primeira fase (prova discursiva, todas as matérias num só dia, 2 questões de cada, 15 linhas para cada questão) eu estudei pelo "básico" e, ao longo do mês que antecedeu a prova, li as últimas 4 revistas da PGE (1 por semana). Além disso, dei uma olhada nos Informativos mais recentes do STF e do STJ (separei os acórdãos por matéria, algo que recomendo muito, pois facilita o estudo) durante a última semana.

Para as provas da segunda fase (provas discursivas, 1 de cada matéria, em dias diferentes, com limite total de 20 páginas) eu mantive o "básico" e na semana que antecedia cada prova eu enumerava alguns tópicos mais importantes da matéria e estudava com mais cuidado. Isso parece um jogo, uma aposta. E na verdade é mesmo. Mas mesmo que não acabe caindo exatamente a matéria, o ponto que você estudou mais detidamente, você pode fazer algum gancho na prova. Tudo pode ser aproveitado.

Para as provas orais (1 de cada matéria, em dias diferentes) eu segui a dica de um amigo e me foquei nos conceitos básicos das matérias, que são difíceis de serem explicados, especialmente na frente de uma banca examinadora. Procurei livros bem básicos de cada matéria e me foquei nos conceitos.

6 - Que livros mais te ajudaram a se preparar? Qual o tipo de livro que você considera mais indicado para quem deseja ser Procurador do Estado?

Como eu disse antes, não existe livro "certo" ou "ideal". Na verdade é bom que você conheça o pensamento de quem está na banca, mas não é algo absoluto. Saber raciocinar é muito mais importante do que despejar conhecimento inútil. E isso você pode conseguir de várias formas (lendo outros livros, advogando, etc.). Assim, recomendo a leitura de livros agradáveis, de linguagem agradável, o que fará com que, naturalmente, você adquira o conhecimento necessário.

Uma dica mais específica seria a aquisição de livros que compilam a jurisprudência dos Tribunais Superiores. Eles facilitam muito o estudo.

7 - Qual a ênfase que esse processo seletivo dá em suas matérias?

O peso das matérias é exatamente o mesmo. Mas há bancas que tradicionalmente são tidas como mais rigorosas (o que, em tese, te demanda mais estudo): são os casos de Administrativo, Processo Civil, Constitucional e Tributário. Apesar de todas as matérias serem importantes (também cobram Civil, Empresarial, Trabalho, Processo do Trabalho e Previdenciário), recomendo olhar com um pouco mais de carinho as 4 que citei antes.

8 - Existe alguma bibliografia específica ou algum(s) autor(es) específico(s) que seja(m) necessário(s) conhecer para ter sucesso neste concurso?

Autor específico e necessário não. Muitos dizem que tem que ler os livros dos professores que compõem (Tepedino, Diogo de Figueireido, Barroso, etc.), mas eu não creio nisso. Conheço diversos procuradores que passaram ser ler esses livros. Eu mesmo nunca li um livro do Tepedino e do Diogo de Figueiredo, mas mesmo assim consegui ir adiante. Como eu falei, raciocinar é muito mais importante. Claro: se conseguir ler os livros da banca, melhor ainda.

9 - Se você pudesse dar uma dica aos nossos leitores que pensam que esse cargo é algo intangível, o que diria a eles?

Simples: não pensem que é inatingível. Nada é inatingível. Apenas será difícil de atingir (mas, convenhamos, se fosse fácil não teria graça, não é mesmo?). Como eu disse, precisa de esforço, disciplina, determinação. Mas que é possível, é. A cada 2 anos existem aproximadamente 20 provas vivas de que isso é possível.

10 - Deixe uma mensagem para os concurseiros.

Eu agradeço muito o convite, pois pra mim é um prazer enorme participar do site. Minha mensagem final se resume em três palavras: amor, determinação e fé. Tendo isso em mente, nada é impossível.

Resumo da Ópera - Parabéns pela sua suada vitória, Baltazar!

Raquel Monteiro é uma legítima concurseira carioca.

IMPORTANTE - Os textos publicados nesse blog são de inteira responsabilidade dos seus autores em termos de opiniões expressadas. Além disso, como não contamos com um revisor(a) de textos, também a correção gramatical e ortográfica é de inteira responsabilidade dos mesmos.

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4 Response to "Raquel Monteiro entrevista Baltazar Rodrigues"

  1. Opa, Baltazar!
    Parabéns!!
    Motivação para iniciar o sábado de estudo! Eba!

    Fontenele says:

    Para quem ainda acha que para passar em concurso só depende de sorte, o nosso colega Baltazar, respondeu todas as dúvidas.
    Estudo, muito estudo e dedicação minha gente! Este o grande e misterioso segredo dos vencedores.
    Parabéns, Baltazar! Muito sucesso na sua carreira.
    Parabéns, Raquel!
    Você como sempre arrasa nas suas entrevistas.
    Qualquer dia desses será você a entrevistada. Estou na torcida!

    Raquel says:

    Obrigada, pessoal! Obrigada por nos brindar com suas dicas, Baltazar!

    E vamos estudar!

    Raquel Monteiro

    Anônimo says:

    Baltazar é o tipo de pessoa que inspira.
    Conheci quando ele era estagiário da PGE e eu da Vara de Fazenda Pública. Sempre ajudava ele pq era um dos poucos que me tratava bem naquele balcão.
    Quando ele passou na Residência Jurídica eu disse - conheço esse menino, pelo bom caráter dele e humildade ele vai longe.
    Quando passou para PGE eu encontrei com ele na porta, hoje sou estagiária de lá, e ele lembrou do meu nome sem me ver há uns 2 anos ou mais.Porque eu o ajudava.
    Ele mereceu e posso dizer isso com certeza.
    Um dia todos nós chegaremos lá, desde que força e coragem que ele teve e principalmente, humildade que ele tem de sobra.
    Tenho orgulho de conhecê-lo.
    Parabéns mais uma vez Baltazar e para o site q é escrito com o coração.
    Bjs.

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