Ahhhhhgggggrrrrrrrr ...

Ontem estava lendo uma dessas revistas semanais e numa matéria sobre o escândalo do Senado, havia um box com uma entrevista com um servidor dessa casa legislativa. Basicamente tal servidor dia que sentia vergonha de trabalhar no Senado e que pensa seriamente em abandonar a carreira pública para voltar à iniciativa privada, pois apesar de ser um servidor honesto, que não se metia em falcatruas, mesmo assim recebe uma remuneração que considera astronômica (geralmente R$20 mil, mas que em junho chegou a R$32 mil).

Putz, é lendo coisas assim que fico puto, mas muito puto da vida!

Quando terminei de ler a tal entrevista pensei, “putz, eu aqui ralando feito um condenado, estudando feito um louco 10 horas por dia todos os dias, pedindo a Deus para ser empossado num cargo de R$3,5 mil (para começar) e esse cara falando tanta bobagem”.

Penso assim. Como escrevi no artigo de sexta, quando me propus a prestar concursos públicos, já tinha em mente que serei um servidor 110% honesto e ponto final. Não participarei ou serei omisso frente a ilegalidades, falcatruas e toda essa sujeira que ronda o serviço público no Brasil. Para mim o Código de Ética dos Servidores Públicos (de qualquer poder e esfera) não é letra morta, mas é algo para ser seguido a risca, é um código de conduta moral que me proponho a seguir para poder deitar tranquilo a cabeça no travesseiro a noite e dormir o sono dos justos.

Agora, uma coisa é não ser desonesto por ação ou omissão, outra coisa completamente diferente é um servidor querer se insurgir contra benefícios e níveis remuneratórios estendidos a todos os servidores do órgão onde trabalha. A primeira coisa é ser honesto e ético, a segunda é querer aparecer ou ter um parafuso a menos na cabeça.

Peguemos um exemplo prático. Digamos que por algum milagre muito milagroso os governadores do Brasil resolvam criar um piso remuneratório para os policiais militares, de forma que um soldado (mais baixa patente da carreira) passe a ter uma remuneração inicial de R$5 mil (nada mais justo para esses profissionais que arriscam a vida todos os dias em meio à violência urbana). Ok, tudo muito bom, tudo muito bem, mas daí começa a rolar um movimento de policiais militares de diversos estados insatisfeitos contra esse piso remuneratório que consideram muito alto e ameaçam entrar em greve se tal valor não for cortado pela metade. Isso tem sentido? Todos os policiais receberem esse piso remuneratório é desonesto ou antiético? Eu acredito que não.

Se eu fosse hoje servidor do Senado Federal com um salário astronômico desses, tranqüilo por não participar ou nunca ter participado de falcatrua nenhuma, não sentiria vergonha nenhuma, nada disso. Continuaria trabalhando de queixo erguido, fazendo o meu trabalho da melhor forma possível e exigindo vigiando meus colegas para que fizessem o mesmo.

Mas é aquela história, “para cada cabeça, uma sentença”. Não conheço o servidor que deu a tal entrevista, não sei qual a realidade que ele vive, quais os valores morais e ético pelo qual baliza sua conduta, portanto não sou eu que vou julgá-lo certo ou errado em sua crença nesse assunto. Vivemos em um pais que preza a liberdade de consciência, e apesar de não compartilhar de sua opinião, defendo com unhas e dente seu direito de ter uma opinião diferente da minha.

Resumo da ópera – Perdoem-me pelo desabafo, mas se ponham no meu lugar, estou estudando a pouco mais de dois anos, rezando todos os dias por uma nomeação, cansado, de vez em quando espreitado pela sombra da frustração, doido para ficar feliz da vida com uma remuneração de R$3,5 mil que seja. Nessa situação não posso deixar de ficar injuriado quando um servidor público se diz envergonhado por ganhar em mesmo trabalhando honestamente, não posso mesmo. Dá vontade de falar para o cara, “ei, amigão, vamos trocar de lugar por uns três meses e depois conversando”.

Charles Dias é o Concurseiro Solitário.

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1 Response to "Ahhhhhgggggrrrrrrrr ..."

  1. Camisa 9 says:

    Concordo com o servidor, Charles...20mil pra fazer o que esse cara deve fazer, convenhamos que é muito pra um país que tem uma distribuição de renda horrível...

    Pra mim, vereadores, prefeitos, senadores recebem muito mais do que precisam, necessitam e merecem, fora o auxílio que os caras embolsam...aff...aí com certeza o deles deve passar de 20 mil... teoricamente é mais que o presidente da República..como alguém pode receber mais que o Presidente da República?

    Parem as máquinas porque tá tudo errado!

    Éric

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