Como disse no artigo anterior (clique aqui para ler), muitos concurseiros acabam elegendo bodes expiatórios como causadores dos problemas que os afligem e que, por isso, no final acabam não sendo devidamente resolvidos e voltam a atrapalhar a vida desses concurseiros sem dó nem piedade.

É interessante como esses concurseiros não conseguem sacar o que para muitos outros concurseiro é óbvio e claro como um dia ensolarado de verão, que há verdadeiros e falsos inimigos. Muitas coisas parecem mesmo inimigos dos concurseiros, mas se forem analisadas com cuidado se revelarão apenas bodes expiatórios de problemas mais profundos e graves. Outras coisas, de modo contrário, que não se parecem nem um pouco com inimigos não resistem a uma análise um pouco mais cuidadosa e se revelam inimigos dos mais problemáticos e nocivos.

Vejamos alguns exemplos de falsos inimigos que se parecem muito com inimigos reais, bem como os verdadeiros inimigos que existem por trás deles.

Internet – Muitos atacam a Internet como a raiz de uma diversidade de problemas, não só no universo dos concursos públicos, mas do estudo em geral, do trabalho, das relações sociais. “Concurseiro que navega demais na Internet não está estudando sério para passar” é uma frase comum para quem acredita que a rede mundial de computadores é um grande inimigo muito perigoso. Grande engano. A Internet é apenas uma ferramenta, um meio, um veículo de troca de informações. Notem que uma coisa é o concurseiro passar uma quantidade razoável de tempo na Internet estudando apostilas online ou colhendo informações sobre concursos, outra coisa é “passar o tempo” com assuntos que não tenham nada a ver com concursos públicos. No primeiro caso não há problema algum, afinal de contas, estudar é estudar. No segundo caso, o verdadeiro inimigo não é a Internet em si, mas a falta de motivação para estudar que faz o concurseiro buscar outras coisas para ocupar seu tempo ... e a Internet é um prato cheio para isso.

Academia de ginástica – Muita gente também acredita que concurseiro não pode ir para a academia de ginástica, afinal de contas não tem tempo para perder com isso se está estudando sério. Outra grande bobagem, pois é sabido que não é somente aconselhável como necessário que o concurseiro faça atividade física regularmente, pois além de auxiliar a manter a saúde ok também potencializa a capacidade de estudo por conta de diversos fatores. Uma coisa é o concurseiro ir para a academia apenas pelo tempo necessário para se exercitar e então voltar para casa para estudar, seja isso duas vezes por semana ou todos os dias da semana. Outra coisa completamente diferente é ir para a academia “fazer um social”, ficar batendo papo, paquerando, enrolando. Nessa segunda possibilidade fica claro que a academia é apenas um motivo para o concurseiro se afastar dos estudos, portanto o problema real por trás é a falta de motivação e força de vontade para estudar, a academia é somente uma fuga.

Filminho para relaxar – “Concurseiros sérios não têm tempo para assistir filmes ou televisão”. Olha o radicalismo atuando novamente. Uma coisa é o concurseiro assistir um filmezinho ou um pouco de TV para relaxar depois de um longo dia de estudo, afinal de contas, ele pode fazer o que quiser com seu horário de descanso, outra coisa totalmente diferente é deixar de estudar para assistir a um filme na famosa Sessão da Tarde ou para não perder a novela das seis. Televisão também é fuga dos estudos para muitos concurseiros desmotivados, descontentes com a opção que fizeram de estudar para concursos públicos ou que acham que o pouco que estudam é suficiente para garantir a aprovação, seus verdadeiros inimigos. Agora, duas horinhas de filme ou TV antes de dormir não matam ninguém ... a não ser que isso signifique ter de dormir tarde para acordar cedo no dia seguinte, o que, conseqüentemente, acarretará em um dia sonolento e de baixo rendimento nos estudos.

Dia de descanso na piscina do clube – Muita gente acredita que concurseiros deve estudar o dia todo todos os dias da semana até serem aprovados. Isso seria válido se fôssemos máquinas e não nos cansássemos, o que não é verdade, claro. Um dia de descanso deve fazer parte da semana do concurseiro, meio dia se as provas estiverem muito próximas. Estudar direto sem descanso resulta é estresse, fadiga e queda crescente no rendimento dos estudos. Concurseiros que não têm um dia de descanso semanal na verdade enfrentam inimigos muito maiores, possivelmente a falta de planejamento e/ou a vontade/necessidade de “fazer bonito” para outras pessoas, de “mostrar trabalho”.

Vejamos agora alguns inimigos muito reais que de tão nocivos se fazem invisíveis ou aparentam agir menos sobre os concurseiros que na realidade agem.

Falta de estratégia definida – “Estratégia é o plano ou ação de longo prazo desenhado para atingir uma meta específica”. Concurseiros sem uma estratégia definida ou adequada dão muitas cabeçadas, pois lutam sem rumo, sem saber direito como lutar, como empregar da melhor forma seus recursos, quais caminhos seguir. É o famoso “cego no meio de um tiroteio”. Esse inimigo é muito, mas muito nocivo mesmo, afinal de contas, o concurseiro quer estudar e lutar bravamente, mas não traçou um caminho para chegar do ponto de onde está até esse ponto onde quer chegar ... é mais ou menos como querer ir de Porto Alegre a Tóquio sem ver, ouvir ou falar nada ... só na base do tato! O cara pode até conseguir uma hora, mas vai dar muita cabeçada até fazê-lo. O grande problema é que esse inimigo muitas vezes se esconde atrás de um inimigo bem menos nocivo, a indecisão se estudar para concursos públicos é a melhor opção para a pessoa. O cara vê seus esforços não surtirem efeito e enquanto pensa que é porque “isso não é para mim”, na verdade isso acontece porque ele está lutando sem estratégia.

Falta de planejamento adequado – “Planejamento é processo de definir metas, determinar atividades e fixar cronogramas de forma a atingir resultados esperados”. Ok, o concurseiro definiu uma estratégia, o mapa para levá-lo ao seu objetivo de aprovação em concurso público, mas ele precisa definir como será sua viagem, que trechos percorrerá de trem, de carro, de avião de carona, quanto tempo poderá gastar para ir do ponto D ao ponto F e assim por diante. Concurseiro que não planeja estudar jogando as apostilas e livros para cima e pegando um, é aquele que estuda Direito Constitucional para determinado concurso sem ao menos ler os tópicos que serão cobrados em prova, é aquele que não monta um cronograma de estudo. Esse inimigo também é conhecido pelo nome de “desorganização”. Concurseiro desorganizado é concurseiro sem um plano de batalha fadado ao fracasso, simples assim. Esse inimigo também costuma de esconder atrás de um inimigo menos nocivo, geralmente o famoso “sou organizado em minha desorganização”. Gente, não tem jeito, concurseiro sério tem de planejar igual a militares que fazem tudo bonitinho, bem organizadinho, com gráficos, tabelas, cronogramas, pastas, arquivos e ponto final.

“Tapar o sol com a peneira” – Segundo o Dicionário de Expressões Populares Portuguesas essa expressão significa fazer um esforço mal sucedido para ocultar algo que é claramente visto ou percebido, em outras palavras, é não querer enxergar o óbvio. Tomemos um concurseiro que compra uma apostila vagabunda e barata para se preparar para um concurso e estuda muito sério por ela. Chegou o dia da prova e o cara foi mal, muito mal, afinal de contas o que aprendeu estudando unicamente por aquela apostila foi insuficiente ou errado. Puto da vida o cara passa a culpar a apostila pela sua derrota, xingando que a escreveu, quem a imprimiu, quem a vendeu. O fato da apostila ser vagabunda é um inimigo menor, atrás do qual se esconde o verdadeiro inimigo desse concurseiro, sua falta de critério na escolha do material de estudo, na sua preferência em gastar pouco em tal apostila vagabunda ao invés de investir em material de boa qualidade. Isso é tapar o sol com a peneira!

Medo de encarar – Estudar para concursos públicos é algo doloroso, difícil, que exige até a última gota de motivação e ânimo do concurseiro, algo que muitos concurseiros, simplesmente, preferem ignorar, fingir que não sabem que acontece. Certa vez um grupo de amigos meus se reuniu para organizar uma trilha a pé de final de semana em uma montanha da região onde morava. Um desses amigos era guia de ecoturismo e avisou que era uma trilha difícil, que levaríamos o dia todo para chegar do sopé ao pico, mas ninguém pareceu se assustar e combinamos para o final de semana a ativdiade. No grande dia três amigos não apareceram no ponto de encontro combinado. Ligamos para cada um e as desculpas foram as mais esfarrapadas ... “Perdi a hora, ainda estou na cama” ... “Nossa, acordei hoje com um resfriado danado, não tenho condições de ir” ... “A avó do tio da prima do irmão do cunhado do meu primo morreu e preciso ir ao velório”. A mesma coisa acontece na guerra dos concursos públicos. Muitos concurseiros dão desculpas esfarrapadas para seu insucesso, desculpas como “não tenho um lugar adequado para estudar” ou “não dá para concorrer com quem compra o gabarito das provas”, para não revelar o verdadeiro motivo de sua falta de seriedade ao lutar, a falta de coragem de encarar o estudo, a necessidade de tomar decisões difíceis, da privação de divertimento e vida social, da falta de grana, da necessidade de sair de casa se for nomeado, da necessidade de contrariar interesses pessoais de familiares, namoradas, amigos e por aí vai.

Resumo da ópera – Saiba diferenciar seus verdadeiros inimigos dos falsos inimigos, afinal de contas, como você poderá combatê-los se nem ao menos souber quais são um ou outro? Claro que não será nada agradável fazer isso, mas é necessário e disso depende seu sucesso na guerra dos concursos. Garanto que é muito melhor fazer isso do que ficar anos se frustrando por não ver seus esforços concursídicos resultarem em aprovações e nomeações!