Nesse domingo alguns bons milhares de concurseiros reuniram-se em Brasília para prestar as provas do concurso do Supremo Tribunal Federal (STF). Feitas as provas, chegou a hora de esperar pelo resultado, uma angústia para muitos candidatos, tranqüilidade para outros e apreensão para a maioria.

Ontem cheguei em casa pouco antes do almoço, muito cansado depois de uma longa viagem de ida para a Capital Federal, um dia de revisão de material de estudo, um dia de provas cedo e à tarde (prestei tanto para analista como técnico da área administrativa) e logo em seguida uma longa viagem de volta para o Sul de Minas. Sinceramente, a última coisa que eu queria era me preocupar com a prova que tinha feito no dia anterior.

Lá pelas tantas da tarde, uma amiga me ligou não só para perguntar como fui de prova e de viagem, mas também para dizer que já circulavam na Internet vários gabaritos extra-oficiais do concurso. Como ela começou a estudar para concursos faz pouco mais de um mês, teve a curiosidade de dar uma olhada nas provas e mesmo com pouco conhecimento das matérias cobradas notou que esses gabaritos continham erros grosseiros.

Claro, a curiosidade falou mais alto que o cansaço e lá fui eu dar uma olhada nesses tais gabaritos extra-oficiais. Não precisei procurar muito para encontrar três, feitos por professores e cursinhos, dois bastante conhecidos. E não é que a menina estava certa, não precisei checar dez questões de cada um para localizar respostas incorretas para questões fáceis e de resposta óbvia para quem estudou o mínimo do assunto que tratavam. Sinceramente, não tive disposição ou paciência para analisar inteiros cada um desses gabaritos para encontrar todos os erros, mas era óbvio que existiam vários.

De um lado temos professores e cursinhos que lançam gabaritos extra-oficiais com erros óbvios. De outro lado temos milhares de candidatos que baixam esses gabaritos, os usam para corrigir suas provas e têm uma idéia errada de como foi seu desempenho real nos concursos. Vejamos.

Quanto aos professores e cursinhos, é feio errarem na correção das provas, afinal de contas se tecnicamente estão preparados o suficiente para ensinar, não deveriam errar, pelo menos não tanto e em questões de resposta tão óbvia. Mas se até as próprias bancas erram na divulgação dos seus gabaritos preliminares, até certo ponto dá para engolir.

Agora, quanto aos concurseiros que usam esses gabaritos no dia seguinte à prova sem ao menos analisar criticamente as respostas oferecidas pelos professores e cursinhos, bem, esses gostam de sofrer, só pode, são casos graves de masoquismo concurseiro.

Em muitos casos segundo o gabarito extra-oficial incorreto o concurseiro fez uma ótima prova. Então o concurseiro comemora, dá pulos de alegria, liga para amigos e parentes contando de seu ótimo desempenho, faz planos para depois da posse, sente-se nas alturas.

Em muito mais casos ainda, segundo o gabarito extra-oficial incorreto o concurseiro teve um desempenho vergonhosamente ruim na prova. O concurseiro chora, fica triste, desespera, entra em crise pensando no tempo de estudo e dinheiro gastos que não serviram para nada, pensam em desistir, em encher a cara para esquecer, em comer dois quilos de chocolate para compensar a derrota.

Piores são os casos dos concurseiros estudiosos e esforçados que, segundo o maledeto gabarito extra-oficial incorreto, tiveram um desempenho mais ou menos, morno, na média. Aqui o efeito é mais devastador dependendo de há quanto tempo o concurseiro está estudando e se preparando para concursos. A motivação vai para o ralo e isso é grave, muito grave.

Só que esse pessoal está alegre, triste ou perdendo a motivação antes da hora, já que esses gabaritos furados não valem uma pitomba. Daí, quando chega o gabarito oficial, as coisas mudam. Quem parecia ter feito uma prova muito boa não teve um desempenho tão bom assim. Quem parecia ter feito uma prova muito ruim não teve um desempenho tão mal assim. Quem perdeu a motivação acaba descobrindo que não precisava ter passado pelo drama que passou e terá de suar para recuperá-la depois do susto.

Resumo da ópera – Se você gosta de sofrer, tem tendências masoquistas, sente prazer na dor, então caia de cabeça nos gabaritos extra-oficiais. Agora, se você acha que dor só deve ser sentida se necessário e na hora necessária, então tenha paciência e espere o s gabaritos preliminares divulgados oficialmente pelas bancas.