Desde quando eu estudava para o vestibular era comum de ficar sabendo que alguns colegas que apelavam para o uso de medicamentos na tentativa de estudarem mais e melhor. Na época da faculdade esse artifício era comum nas semanas de provas de final de semestre. Essa “solução” não poderia deixar de existir também entre quem estuda para concursos públicos.

Semana passada participei de um bate-papo via chat de uma comunidade de candidatos para o concurso do STF e lá pelas tantas alguns dos participantes começaram a discutir sobre o uso de medicamentos que teriam a capacidade de aumentar a concentração, facilitar a memorização, permitir que se estudasse vinte horas seguidas sem sentir sono e daí por diante. Foram mencionados, inclusive, nomes de medicamentos e fórmulas mágicas que tinham como ingredientes pó de guaraná, bebida energética, amendoim torrado e moído, inclusive alguns mais exóticos como ovo de codorna, xarope de chocolate trufado e geléia de jaca (nem me perguntem de onde alguém tirou isso)!

Simplesmente não consigo acreditar que tem gente que desconhece o perigo que o uso indiscriminado de medicamentos representa. O que há, isso, é uma montanha de ignorância quanto ao risco a saúde e ao bem estar que tais “soluções” representam.

Tenho um amigo médico que desenvolve uma pesquisa de doutorado sobre essas interações medicamentosas estapafúrdias usadas por estudantes e profissionais como caminhoneiros, os famosos rebites, e seu perigo potencial no curto, médio e longo prazo para a saúde. Ele me disse que muitas misturas aparentemente inocentes de ingredientes ditos naturais e remédios de consumo livre, como analgésicos, podem resultar em sintomas graves como taquicardia (o coração bate de forma acelerada), sudorese (suor constante), insônia, alucinações e até convulsões (contrações violentas, involuntárias e dolorosas de grandes áreas musculares por problemas no sistema nervoso central). Ele documentou vários casos de pessoas que ficaram com seqüelas que levarão para a vida toda, como tiques nervosos e problemas crônicos de saúde, além de alguns casos de morte por AVC (derrame cerebral) e infarto.

Mais problemático ainda são os tais “produtos naturais”, que, muitas vezes, de natural mesmo têm somente o nome. É comum nesses produtos a inclusão de drogas perigosas como ansiolíticos, anfetaminas e hormônios. Claro que esses “produtos naturais” são criados e fabricados por quem não entende nada de farmacêutica e muitas vezes em locais inadequados, como um simpático fundo de garagem ou barracão sem condições mínimas de higiene. Mas como tem um punhado de trouxas que compras e consomem esses produtos, os espertos que os criam e produzem não estão nem aí para os riscos para a saúde que podem representar.

Gente, não há nada melhor do que estudar descansado e de “cara limpa”, sem estar sobre o efeito de nenhuma droga ou medicamento. Nada melhor que uma boa noite de descanso para deixar a mente alerta e pronta para aprender, para absorver novos conhecimentos. Além disso, estudar por horas e horas com qualidade é algo que se consegue com o tempo e prática. Não adianta querer fazer isso de uma hora para outra, é algo que vem com o tempo.

Resumo da ópera – Muito cuidado com o que você toma em termos de medicamentos e “produtos naturais”. Há uma chance grande, mas muito grande mesmo, de que você esteja se prejudicando ao invés de estar se ajudando. Não adianta nada apelar para esses produtos e passar no concurso, porém sofrer o resto da vida com alguma seqüela grave. É um preço alto demais a se pagar quando se pode fazer a mesma coisa sem apelar para esses produtos, nem que isso leve um pouco mais de tempo.