O famoso “índice de abstenção”, quando aplicado aos concursos públicos, se refere à proporção de candidatos inscritos que não apareceram para prestar prova. Esse dado, pouco observado por muitos concurseiros, revela informações muito importantes, não somente sobre o concurso em si, mas sobre os concursos públicos em geral.

Nesse final de semana prestei as provas do concurso do MPOG (Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão) em São Paulo. Esse concurso é nacional, para vários cargos e local de trabalho em Brasília. Logo, vou usar esse concurso para exemplificar as informações que se pode deduzir a partir do índice de abstenção.

Antes de começar a análise, vale dizer que na sexta-feira anterior ao concurso houve uma certa confusão quanto às provas serem aplicas ou não, por conta de um mandado de segurança relativo a não existência no edital de previsão de isenção de inscrição para candidatos hiposuficientes (carentes), mas que foi resolvido ainda na sexta-feira, com outra decisão judicial mantendo as provas.

Ao chegar ao colégio paulistano onde prestaria provas no sábado e domingo (dois dias de prova), estranhei o pequeno número de candidatos no pátio aguardando o horário de entrada para as salas. Esse concurso preencherá vagas para quatro cargos no ministério e recebeu um total de 10.042 inscrições. Apesar das provas serem realizadas em 10 capitais, sendo São Paulo a maior delas e tradicional ponto de atração para uma legião de pessoas interessadas em prestar concursos públicos, esperava encontrar mais candidatos por ali.

Foram usadas vinte salas do colégio, cada uma abrigando de 28 a 32 candidatos. Assim que deu o horário de fechamento dos portões fiz a contagem da minha sala. Dos 28 candidatos esperados, somente 18 compareceram. Isso significa um índice de abstenção de aproximadamente 35%, um número bastante alto baseado em minha experiência em concursos públicos. O mais estarrecedor é que lá pelas tantas, uma das fiscais de prova passou na sala para anotar o número de faltosos e consegui dar uma olhada na lista, que estava quase completa e mostrava que em todas as salas faltaram de 9 a 13 candidatos.

Se usarmos uma média de 30 candidatos por sala nesse colégio, teremos 600 candidatos. Aplicando um índice de abstenção médio de 35%, teremos 210 faltosos no primeiro dia, ou seja, mais de 1/3 simplesmente desistiu do concurso.

No segundo dia de prova, domingo, sabia que alguns candidatos não voltariam. O cara que vai mal no primeiro dia de prova raramente encara o segundo dia sabendo já que não tem mais chances de aprovação. Batata, faltaram mais 3 candidatos, que somados aos que faltaram no primeiro dia, elevou o índice de abstenção na minha sala, e por abstração ao colégio inteiro, para 46,5%, ou seja, quase metade dos candidatos não fizeram as duas provas e, portanto, estão fora do concurso.

Após consultar alguns fóruns sobre esse concurso, acredito que a média do índice de abstenção geral para o concurso como um todo girará entre 35% e 45%.

Agora, o que esse número diz para os candidatos que sabe e querem ouvir. Vejamos.

Em primeiro lugar que a concorrência efetiva será muito menor do que se esperava. Nesse concurso, por exemplo, ao invés dos mais de 10 mil candidatos inscritos, será de aproximadamente 6 mil.

Em segundo lugar que tem muita gente animada com concursos públicos como fogo de palha, ou seja, a animação dura pouco. Muita gente gasta para pagar a inscrição, provavelmente gasta para comprar algum livro ou apostila, mas no final das contas vê que não tem chance e desiste de perder o final de semana fazendo uma prova que sabe que não tem chances de ser aprovado.

Em terceiro lugar prova que todo esse barulho quanto a concursos públicos estarem se tornando a Meca dos desesperados é uma grande bobagem. Muita gente até pensa nisso, mas uma boa parte fica só no querer e não chegam ao fazer.

Notem que um alto índice de abstenção não significa que o concurso será mais fácil, que a disputa por uma das vagas oferecidas será mais tranqüila. Quem realmente estudou para o concurso, dedicou horas e horas aos estudos, esse pessoal não desistirá de prestar provas a não ser por um motivo muito, mas muito importante mesmo.

Resumo da ópera – Concursos públicos é isso aí, gente, muita gente querendo fazer, poucos estudando de verdade para conquistar uma vaga. É por conta de coisas assim que não se pode dar muita bola para número de inscritos e relações de candidatos/vaga, pois é tudo muito relativo, no final não é todos os inscritos que fazem provas e desses poucos são os que realmente estão preparados.