COLUNA DA CONCURSEIRA CRÔNICA - Sobre a arte da "colegação"

Sim: a palavra entre aspas do título não existe; é um neologismo criado pelas minhas colegas de faculdade. Éramos da área de Arte e Cultura, meio em que fazer contatos é fundamental para um bom desempenho na carreira. Quando nos referíamos, pois, a duas pessoas que não se conheciam, ou se conheciam pouco, e estavam entretidas num papo animadíssimo (geralmente num evento), dizíamos que elas estavam "colegando". Uma frivolidade típica do nosso ambiente sócio-profissional.

Espero não decepcionar os amigos que sempre param por aqui para ler a coluna, mas o fato é que eu não sou sempre "colegante". Claro que puxo conversa em fila de banco e de supermercado, mas quando não estou numa "lua interativa", costumo ser bem séria à primeira vista. Só me desarmo rapidamente quando vejo que converso com alguém que vale a pena papear.

Agora, imaginem a seguinte situação.

Dormi absurdamente mal na madrugada do último domingo, e acordei antes das 6 para partir em direção a mais um concurso. Chovia que era um horror no Rio, um clima chato demais. Calculei mal o tempo e cheguei muito cedo no local de prova, o que resultou numa longa hora em pé, debaixo de uma marquise, esperando os portões abrirem. Neste ínterim, aparece uma criatura do meu lado doida para "colegar" comigo. Ai ai ai. Sono, frio, mau-humor matinal... e alguém me falando que veio de não sei onde fazer prova no Rio, com a maior cara de que estava ali por acaso! Uma maçada, como se dizia no século XIX. A última frase foi uma perguntinha cretina: "Tá animada pra prova?" Respondam-me, por favor: que tipo de pessoa pergunta se você está "animado" pra uma prova? Adjetivos pra concursando, nessas circunstâncias, se resumem a "preparado", "concentrado" e "tranqüilo". Ou eu tinha me confundido e estava na porta de uma boate? Uma rave? Não, não estava. Por delicadeza, respondi um "vamos ver" e voltei a minha ensimesmação.

Não demorou para que o candidato a "colegante" provasse que era mesmo uma mala-sem-alça. Quando a platéia aumentou, desandou a discursar que, para o cargo a que concorríamos, era preciso apresentar um certificado de curso de não-sei-o-quê no momento da posse. Eu e mais duas pessoas dizíamos que não, e ele insistia de forma azucrinante. Não agüentei e respondi que, bem, se ele achava que era aquilo, ok. É, meus amigos: o "colegante" não tinha lido o edital e não sabia nem pronunciar o nome do cargo a que estava concorrendo. Salvo mau juízo, era uma daquelas figuras que desabam sabe Deus de onde na hora da verdade, entoando o mantra "de repente eu dou uma sorte e passo".

Sei que estou azedinha hoje, e que a culpa sequer foi exclusiva do candidato a "colegação" (uma "rezadora" na sala de prova contribuiu muito – manja aquelas pessoas que sussurram o que lêem como se rezassem um Pai Nosso?), mas não há nada mais irritante do que se dar conta de que ainda existem pessoas que "brincam" de fazer concurso público. Caramba! Um concurseiro sério, que se vira do avesso pra arcar com os custos dessa corrida, estuda 8 horas por dia, larga emprego ou, pior, trabalha de dia e estuda de madrugada, se sente no mínimo desconfortável quando vê alguém profanando o objeto de sua concentração com tanta desídia. Não que eu nunca tenha feito provas por fazer, pra ver qual é... mas pelo menos tinha a decência de abordar as pessoas de forma a aprender com elas, mostrando minhas impressões com alguma humildade! Agir de outra forma seria ofendê-las.

Peço mil desculpas pelo desabafo, mas tem dia que cansa. Ah, e pelo amor de Deus, não tenham receio de me abordar numa fila de prova: eu sempre guardo um sorriso no bolso pr'aqueles que estão verdadeiramente caminhando na mesma direção que eu!

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Bate-papo do Concurseiro Solitário
(Hoje, DOMINGO, a partir das 20:00)

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O bate-papo será na Sala 1

5 Response to "COLUNA DA CONCURSEIRA CRÔNICA - Sobre a arte da "colegação""

  1. Anônimo says:

    Também não gosto muito da leitura de instruções que vem nas diversas provas. Hoje mesmo após a distribuição de provas para o concurso da CET aqui em São Paulo a mulher parecia estar fazendo um discursso. Durante este momento eu prefiro fechar os olhos e fazer uma pequena prece a Deus para realizar uma boa prova.
    E também sou daqueles que chega ao local de prova e fico quieto aguardando para entrar. Não me sinto à vontade de puxar assunto com outros candidatos que não conheço.

    Raquel says:

    Flávia, acalme-se, por favor.

    Use o bate-papo com essas pessoas para mostrar a si mesma que você é uma das poucas pessoas sérias que está fazendo aquele concurso. Procure não se aborrecer com isso. Afinal, "a ignorância é uma benção", (risos).

    Mesmo com sono - esse final de semana foi punk com prova sabado e domingo - eu procurei conversar com as pessoas. Isso alivia um pouco da tensão e me mostra como está a expectativa das pessoas, o nível de estudo delas, o compromisso. Sempre aprendo um pouco "colegando". Se bem que, depois das provas desse final de semana, eu acho que desaprendi muita coisa...Que rasteira!

    Raquel

    Flavia C. says:

    Raquel, eu tô calminha agora... rs

    Isso é coisa do dia e da "vibe" dos coleguinhas. Esse sábado, fiz um concurso em que bati um papo animadíssimo com dois concurseiros dentro da sala mesmo, antes da prova começar. Ah, devo lembrar que nesse caso a prova foi à tarde, o dia estava lindo, e eu, pouquíssimo preparada! rs

    Anônimo says:

    Olá, Raquel!
    Então, pior que a "colegação" na hora da prova, é a "colegação" de pessoas do seu convívio (trabalho/amigos) que estudam e que vem te contando, com um, digamos, arzinho superior, que já sabe tudo, que tem certeza que vai passar... tudo bem ter confiança em você, mas arrogância ninguém merece... principalmente se o que está sendo dito é uma porção de asneiras!
    De minha parte, falo pelos cotovelos, exceto em dias de prova, qdo prefiro ficar quietinha, fazer uma oração, exercitar a meditação e por aí vai...
    Abração...

    Camisa 9 says:

    Nossa que medo de trombar com a Flávia numa prova rsrs. Se ele tiver com cara de poucos amigos, nem chego perto! Brincadeirinha...

    Nesse domingo fiz um vestibulinho e coleguei com 1 mãe de família, muito simpática, mas pouco preparada. Falamos da prova e de coisas triviais, mas foi bom pra tirar aquele clima de morte que estava na sala. Pelo menos pra nós dois!

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