Muito além da questão sentimental

Oi, concurseiros, meu nome é Graziela, e como fui empossada no começo do ano em um cargo público do judiciário estadual de Santa Catarina e designada para exercício no oeste do estado, sendo que sempre morei em Belo Horizonte (MG), conheço muito bem a questão de abandonar toda uma vida para recomeçar em outro lugar.

O artigo de ontem foi muito bom, principalmente porque tocou em um ponto muito importante, na necessidade de uma real intenção do concurseiro de assumir um cargo público mesmo com exercício em uma cidade longe de onde se mora, de onde está a família, os amigos, da pessoa amada. Realmente, muitas pessoas não se dão conta disso antes de se inscreverem em diversos concursos, ou se fazem acreditam que será algo muito menos traumático do que é na realidade. Por esse motivo, não são poucos os concurseiros que no momento crucial desistem de serem empossados ou mesmo de entrarem em exercício, eu mesma conheço alguns.

No entanto, o concurseiro se vê na iminência de se mudar de cidade para assumir um cargo público está diante de uma situação que vai muito além da questão sentimental.

Vocês não imaginam como é caro montar uma casa partindo da estaca zero, a burocracia envolvida, a quantidade de idas e vindas, um verdadeiro horror. Permita-me destacar alguns pontos particularmente importantes que me causaram grandes transtornos:

Alugar um apartamento – Nunca pensei que alugar um apartamento (ou casa) fosse algo tão burocrático e desgastante, principalmente para uma forasteira na cidade. Depois de dias procurando por um imóvel que atenda a suas necessidades de localização, tamanho, estado de conservação e valor do aluguel, é necessário ter muita paciência para apresentar todos os documentos exigidos e, principalmente, lidar com a questão do fiador. Como não conhecia ninguém na cidade para onde me mudei e preferia não pagar a taxa abusiva de contratação de um seguro de locação, um tipo de seguro aceito pelas imobiliárias no lugar do fiador, tive de negociar a possibilidade de fazer um depósito de caução no valor de três aluguéis.

Linha telefônica e Internet – Se por um lado se tornou muito fácil contratar a instalação de uma linha telefônica que permita utilização de Internet de banda larga, por outro lado o desgaste para que realmente instalem o produto no prazo combinado continua grande. No meu caso, a instalação atrasou três dias e se deu somente após várias ligações com longas esperas para falar com um atendente.

Comprar móveis – Comprar móveis para a nova casa não é tão fácil quanto somos levados a pensar. Se de um lado temos limitações de espaço no novo lar, de outro lado temos limitações financeiras. Bons móveis são realmente caros, demandando muita pesquisa para se encontrar os melhores produtos dentro do seu orçamento. Além disso, não são poucas as vezes em que não há produtos disponíveis para pronta entrega. O quesito entrega e montagem dos móveis comprados é um caso a parte, e fonte de mais contratempos e dores de cabeça.

Comprar acessórios domésticos – Eu não imaginava que era preciso uma quantidade tão grande de acessórios domésticos para tornar a vida possível em uma casa. São acessórios de cozinha (pratos, talheres, copos), acessórios de banheiro, acessórios de sala, acessórios de quarto. Apesar da maioria desses acessórios não custar caro, o total das compras não será barato, além do tempo que é tomado para ir a todas as lojas e comprar tudo o que é preciso, sempre com a certeza de que algo está sendo esquecido e fará falta no futuro.

Criar uma rotina de viver sozinha – Para quem já viveu ou vive sozinho isso não será problema, mas para pessoas que como eu sempre viveram com a família será uma questão de grande importância. Além de uma certa solidão no começo e do fatal “home sickness”, a famosa saudade de casa, tudo dependerá de você para seu novo lar funcionar, e são tantas coisas. É preciso agendar o pagamento de contas mensais, cuidar da compra semanal de alimentos, manter a organização geral, contratar faxineira, encanador ou eletricista sempre que necessário.

Poderia escrever longas páginas a respeito desse lado material de assumir um cargo público em outra cidade, mas essa não é a intenção desse artigo. De qualquer modo, acredito que consegui sintetizar os pontos mais importantes desse lado da questão.

Resumo da ópera – Espero que este artigo sirva como orientação para concurseiros que estão em vias de se verem em situação similar a minha, e desse modo atentem para outras tantas necessidade com que terão de lidar além da questão sentimental da necessidade de ter de se mudar e recomeçar a vida em como um “estranho numa terra estranha”.

Graziela Souza é uma concurseira que agora luta pela magistratura e vem se adaptando muito bem em viver sozinha longe da família.

IMPORTANTE - Os textos publicados nesse blog são de inteira responsabilidade dos seus autores em termos de opiniões expressadas. Além disso, como não contamos com um revisor(a) de textos, também a correção gramatical e ortográfica é de inteira responsabilidade dos mesmos.

2 Response to "Muito além da questão sentimental"

  1. Camisa 9 says:

    Caramba, Grazy...que osso, hein!

    Tomara que um dia eu tenha essa sua "sorte" de ser empossado e me virar sozinho rsrs!

    Parabéns...e ainda continua estudando?

    Éric

    Sissy says:

    Graziela, adorei teu texto. É bem verdade tudo isso. Já estou morando há mais de 1 ano em Brasília, só que por estes dias, mudei de apartamento, eu e meu noivo, pois não aguentavamos mais morar em uma kit. Tudo isto que falaste é verdade. O absurdo do valor do seguro aluguel que tivemos que contratar, a demora do sistema da internet para entenderem que tu mudou de apartamento, e que ali existe ponto sim (meu noivo chegou a ligar 25 vezes, para tomarem providência), comprar móveis (pois a kit em que estavamos era mobiliada), não ter dinheiro pra comprar todos os móveis, demorar para montarem os móveis...é uma infinidade de coisa. Mas acredito que vale a pena.

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