Se tem um trabalho que não é nada fácil é o de quebrar pedras ou concreto com uma pesada marreta de 10 quilos em um dia de sol forte. Não é preciso muito tempo para a marreta parecer ter várias vezes seu peso, para todos os músculos do corpo reclamarem do esforço extenuante, para o calor parecer causticante.

Eu já tive alguns dias de quebrar blocos de concreto assim em meu Curriculum Vitae, mas isso é outra história. O que importa é que sei como é executar essa atividade e também posso garantir que é tão dureza de encarar quanto às críticas, cobranças, desconfianças e tudo o mais que estudar para concursos públicos implica.

É duro admitir, mas concurseiros não são nem um pouco admirados ou apoiados enquanto não garantem a vitória e são empossados servidores públicos. É como disse William Douglas em uma das palestras dele que tive a oportunidade de assistir, algo mais ou menos assim, "Depois de passar todo concurseiro é bonito, magro, forte, inteligente, bem sucedido, fez a escolha certa, modelo de sucesso ... mas antes de passar .... ".

Posso dizer que a vida do concurseiro sério tem, basicamente três fases. Vejamos.

Fase da "Lua de Mel" - É aquele curto período em que a pessoa decide estudar para concursos públicos e a família apoia sua decisão. Quando existe não dura mais que o primeiro concurso públicos que se presta e não se passa.

Fase "Osso duro de roer" - Essa fase é a de maior duração e a verdadeira provação para o concurseiro sério. Como diz a velha história, é aqui que se diferencia os adultos das crianças, uma vez que enquanto os primeiros persistem, os segundos desistem. Essa fase é caracterizada pelas desconfianças de que o concurseiro está mesmo no caminho certo, na falta de crença de que ele conseguirá mesmo passar.

Fase "Ouro puro" - Acontece após a primeira vitória, a primeira posse em cargo público. De duração média, é somente festa e comemoração pelo sucesso do concurseiro. Nessa fase todos garantem de pé junto de que nunca duvidaram que o concurseiro poderia vencer a guerra dos concursos públicos.

Fase "Vai parar por aí?" - É vivida pelo concurseiros que optam pela estratégia do "concurso escada", ou seja, que vão fazendo e passando em concursos para cargos cada vez mais concorridos. Passada a comemoração da primeira posse, vem a cobrança por mais vitórias, mais posses, mais sucesso, se bem que bem menos intensa e dura quanto a vivida na fase "osso duro de roer".

Infelizmente, vida de concurseiro em geral é isso mesmo, ter de aguentar muita cobrança, muita falta de confiança e ainda assim ter de estudar, de perseverar, de levantar a cada queda. Assim como quando é preciso quebrar um grande bloco de concreto com uma marreta de 10 quilos, é preciso aguentar a pancada seca de cada marretada no bloco aparentemente inquebrável. No começo as marretadas são intensas e animadas, sucedem-se rapidamente. Quem está perto anima o marretador, elogia, faz torcida. Então tendem a se tornar menos fortes e mais espaçadas. Quem está perto começa a criticar, fazer piada, duvidar que o cristão conseguirá destruir aquele bloco sólido de concreto. Aí chega a hora em que a pessoa faz-se de surda, cria forças e continua marretando ... ou desiste.

RESUMO DA ÓPERA - É injusto? Não duvido, mas o fato é que acontece muito frequentemente e nos resta apenas perseverar e evitar fazer a mesma coisa com outros concurseiros.