Resposta a uma leitora – Dúvidas comuns no início do estudo
Recebi, nos últimos dias, um email de uma concurseira que, aparentemente, se encontra desesperada na busca de informações a respeito da decisão em se estudar para Concursos Públicos. É uma concurseira iniciante em busca de dicas e de certo norteamento. Todos nós iniciamos nossa jornada em algum momento, e não raras vezes, continuamos cometendo certos equívocos (de julgamento e de técnicas) que teimam em complicar nossa vida de estudos. E devido às matérias abordadas, as dúvidas, as angústias e os pedidos de dicas, que podem ser comuns há tantos outros concurseiros, achei por bem escrever um texto/artigo em resposta ao email, após solicitar autorização da leitora para a divulgação de seus escritos e dados (saliento que o Blog “Concurseiro Solitário” guarda, sempre, privacidade quanto aos dados e informações fornecidas por nossos leitores). Pois bem. A leitora relata o seguinte: “Meu nome é XXX, tenho 20 anos, moro em Brasília e estudo pra concurso desde os 18 anos, quando eu terminei o Ensino Médio conversei com a minha mãe sobre entrar na universidade ou estudar pra concursos e resolvi ser uma servidora pública a partir daquele dia... Fiz cursinhos preparatórios, no começo me senti muito nova, sempre tive uma grande determinação, mas nunca coloquei isso realmente em prática, na realidade eu nunca estudei de verdade, deixei passar muitas oportunidades durante esses dois anos... Estudei em grupos, fazia provas e mais provas e olha que 2008-2009 foi uma época ótima pra passar, ser chamado e trabalhar! E eu não agarrei isso, infelizmente levei tudo na brincadeira, até que meus amigos passaram estão trabalhando e eu aqui, na mesma! Ano passado eu deixei isso de lado, acho que foi a PIOR coisa que eu fiz na vida... com aquela ansiedade de trabalhar e deixar de depender um pouco da minha mãe, comecei a trabalhar de secretária em um cursinho preparatório.. rsrs! Eu ia pra lá estudar, passava de 8h da manha até as 18h ''estudando'', dormia, lanchava, conversava e no final comecei a trabalhar, pra minha mãe aquilo foi horrível! Ela gastou tanto comigo pra me ver daquela forma e eu nem pensei nessa situação na hora... Com um mês trabalhando, ganhei um curso para o MPU, gratuito e larguei o curso na metade... estava cansada demais pra estudar. Em julho/2010 minha mãe teve uma conversa séria comigo e me propôs um curso de Direito em uma faculdade particular daqui, então eu pedi demissão... e resolvi fazer Direito e to assim até hoje! Só que na virada de ano eu pensei MUITO, MUITO mesmo, sobre ser servidora, ter uma renda BOA, ajudar minha mãe, ter meu carro, meu apartamento, minha vida... Pensei também no monte de oportunidades que eu perdi, que esse ano não terá tantos concursos como antes, que é obrigatório ser perfeito nas provas. Acho meio ridículo passar dos 20 anos sendo sustentada, sempre reclamei disso e olha o que me acontece, estou nessa situação. Bom, o meu problema é o FOCO, pra mim isso é muito difícil, eu passo o dia todo sozinha, teve um tempo que eu estava em casa sozinha, sem barulho nenhum, nada que me impedisse de estudar e eu não consigo! Dai eu relaxei novamente, estudava 2 dias sim, 3 dias não... até que em um dia depressivo, entrei no seu blog e li tudo o que podia ter sobre motivação, concursos, como estudar... Fiz um cronograma, entrei no site (Propaganda) que é muito bom inclusive, procurei saber sobre concursos de Tribunais.. por que apesar de ser péssima em Português, eu gosto de direito... até de Dir. Tributário eu gosto, rsrs. Mas do dia 15 de março pra cá, resolvi ter um foco, que é o TRT, minha preferência é o TRT/AM da 11° região, no meu pensamento lá não é tão concorrido como os concursos de Brasília. Tenho todo o tempo disponível pra isso, acho a faculdade muito tranquila, presto atenção nas aulas e não estudo tanto durante o dia, então minha manhã, tarde, noite e madrugada estão totalmente disponíveis. Na verdade tudo que eu preciso é de um empurrão, entende? Eu tenho fé na minha aprovação, sei que eu posso passar, mas eu quero ser a melhor! Sabe quando o ego fala mais alto? Quando você sente necessidade de ser reconhecido pelo que você faz? É isso que eu quero, mas eu não sei como alcançar isso... Enfim, sei que TRT é difícil, requer muito estudo, sei que a banca é a FCC e sei que se não gabaritar, não entra... As matérias são Português, Informática, Direito do Trabalho, Direito Processual do Trabalho, Constitucional e Administrativo, se tiver alguma faltando, você pode me informar? O que eu gostaria mesmo é de um rumo para os meus estudos, saber como eu posso estudar, quantas horas pra cada matéria, não precisa me informar TUDO, mas só uma dica que dê certo comigo... Sobre a FCC, sei que essa banca requer um estudo mais avançado, mas conversei hoje com uma colega concurseira e ela disse que eu teria que fazer somente exercícios e ''decorar'' as leis, por que só cai lei nas provas da FCC. Me desculpe o incômodo, as colocações erradas e os erros de pontuação.. rsrs! Mas por favor, espero que entenda e que me dê uma luz. Muito obrigada. XXX, 20 anos, Brasília. (Negrito nosso). Responderei em tópicos, conforme a importância (em negrito) de cada consideração levada a efeito pela leitora. . (Estudo) “desde os 18 anos”. . “Sempre tive uma grande determinação, mas nunca coloquei isso realmente em prática”. (Deixar de estudar) “acho que foi a PIOR coisa que eu fiz na vida”. A decisão de se estudar para Concursos Públicos pode e deve ser tomada em qualquer momento de nossas vidas, independente da idade, estado civil, grau de escolaridade (obviamente, respeitadas as normas do edital) ou qualquer outra informação aparentemente relevante em nossas vidas. Em um Estado Democrático de Direito, o Concurso Público é, antes de qualquer coisa, uma garantia de lisura e competência no provimento de cargos públicos. Começar cedo, contudo, e for medida possível dentro dos seus parâmetros de decisão, é iniciativa fantástica e que não pode ser desvalorizada. Pelo contrário. Mas é preciso ter disciplina e muita força de vontade, porque a cada vez que, por vários motivos, deixamos de estudar, o re-início se torna mais penoso e nossa capacidade de aprendizagem (que aumenta a cada ciclo de estudos) é quebrada e necessita ser também reiniciada. O importante é que sempre tenhamos em mente que o tempo de estudo sempre se acumula e a parada abrupta reinicia também nossa “curva de aprendizagem” (referência de Willian Douglas, “Como passar em provas e concursos”). Mas a consciência de que deixar de estudar pode ser a pior coisa a nos acontecer é importante. Deve nos dar ânimo para continuar mesmo diante de várias dificuldades (pois valerá à pena!). (Curso Preparatório) “passava de 8h da manha até as 18h ''estudando'', dormia, lanchava, conversava e no final comecei a trabalhar” “Ganhei um curso para o MPU, gratuito e larguei o curso na metade... estava cansada demais pra estudar”: “então eu pedi demissão...” “Acho meio ridículo passar dos 20 anos sendo sustentada” De fato, a própria leitora relata, entre aspas, que passada muito tempo em Cursos Preparatórios “estudando”, dando a entender que, em realidade, passar o dia todo no curso é absolutamente diferente de estudar o dia todo e essa deve ser uma preocupação daqueles que, como a leitora, confundem essas duas situações. Procuramos um ambiente climatizado, silencioso, com bons materiais e apto ao estudo, para estudar (!) e não para construir amizades, conhecer pessoas novas e esquecer que tempo passa, e rápido, em todos os sentidos. De tão ambientalizada a respeito do Curso Preparatório a leitora passou a trabalhar e ganhou um curso gratuito? A consideração a esse respeito deve ser relativizada. Embora essa oportunidade não tenha funcionado para ela, muitos concurseiros enfrentam diversas dificuldades financeiras, e certamente a possibilidade de trabalhar em Cursos Preparatórios em substituição a cursos gratuitos não pode ser considerado uma vergonha. Jamais! Ao contrário, para várias pessoas que enfrentam dificuldades reais no estudo, seria a oportunidade perfeita de aliar a dedicação integral aos estudos com materiais de boa qualidade (que, não raras vezes, são de alto custo financeiro). Pessoas que enfrentam dificuldades (financeiras ou não), em geral, desenvolvem senso crítico a respeito das próprias capacidades e responsabilidades mais apurado, e tendem a se dedicar por mais tempo e mais intensamente a seus propósitos de vida. Confesso que me incluo nesse grupo de pessoas que infelizmente (ou felizmente) não detém muitas possibilidades financeiras de estudo e, portanto, precisam buscar soluções para possibilitar a continuidade de seus estudos. Minha saída pessoal foi realizar estágio de pós-graduação junto ao Tribunal de Justiça do meu Estado (aliando trabalho e estudo jurídico reflexivo ao percebimento de bolsa auxílio). Cada um luta com as armas que têm. Mas isso tem um custo. O cansaço do dia-a-dia de trabalho e a necessidade de superar esse obstáculo para continuar a estudar. Há pessoas que podem se dedicar, exclusivamente, ao estudo. Se você pertence a esse grupo, como a leitora, aproveite! Quanto à idade (20 anos), não acho “ridículo” se dedicar, com a idade que seja e que tenha, a um projeto de aprovação em concursos públicos e receber certo auxílio (emocional ou financeiro, ou ambos) daqueles que te amam e zelam por você, ainda que você seja extremamente jovem para ter uma preocupação como essa, é sadio que se tenha responsabilidade para com seus projetos, e aproveite as oportunidades que a vida te oferece. Se tem como estudar com o auxílio de um parente: estude! Não tema receber auxílio quando pode, mas também não deixe de tomar medidas para que esse “investimento” em você seja fecunde. Estude. Estude. Estude. Meus pais me apóiam muito. Incondicionalmente. Tenho 25 anos e estudo há quase 02 anos. Um dia poderei retribuir uma parte (pois tudo é humanamente impossível) do que meus fizeram por mim. Responsabilidade. Sempre. “que é obrigatório ser perfeito nas provas”. “sei que eu posso passar, mas eu quero ser a melhor! Sabe quando o ego fala mais alto?”: “o meu problema é o FOCO”: “nada que me impedisse de estudar e eu não consigo!”: Será que você precisa ser perfeita nas provas? Cara leitora, eu penso que você prescinda se preparar devidamente para os exames, realizando um processo intelectivo de aprendizado norteado por bons materiais e com o emprego de técnicas de estudo e de controle de tempo adequadas. O resultado do certame é mera conseqüência do trabalho que você desenvolveu. Te garanto que ser “perfeito” não é diferencial ou exigência em nada superior do que estudar com qualidade, até porque não importa ser o primeiro ou o último colocado. O que importa mesmo é ser aprovado dentro do número de vagas e (ou) se classificar para entrar na ordem de nomeação no decorrer da validade do Concurso Público. Você disse que quer ser a melhor. Eu não vejo nada de absurdamente errado em querer ser reconhecida por suas conquistas e não sou contra a que tenha por motivação acariciar seu ego. Mas peço, como articulista deste blog, que tenha cuidado com os limites do sentimento que te move. Se ele (seu sentimento) continuar canalizado para objetivos positivos e éticos, ótimo. É melhor assim. Mas de uma concurseira para outra eu te digo: Vale mais a pena se preocupar em ser aprovada e ter humildade no que diz respeito ao seu próprio conhecimento e capacidades. Os resultados satisfatórios são fruto de intenso trabalho. Não se preocupe em ser a melhor sem antes se preocupar em realizar o básico: que é ser aprovada dentro do número de vagas a partir de muito estudo – e é isso que realmente importa. “minha preferência é o TRT/AM da 11° região, no meu pensamento lá não é tão concorrido como os concursos de Brasília”: “a banca é a FCC e sei que se não gabaritar, não entra...”: (Disciplinas do edital) “se tiver alguma faltando, você pode me informar?”: “somente exercícios e ''decorar'' as leis”: É um equívoco pautar a escolha pela localidade ou órgão, nos estudos, de acordo com as estatísticas de concorrência (número de candidatos por vaga). Estudamos para sermos aprovados e, nessa guerra, lutamos contra nós mesmos. Jamais contra o outro candidato. Dito isso, o Concurso Público para o provimento de cargos do TRT/AM – 11° Região tende a ser um concurso com grau de dificuldade idêntico a qualquer outro concurso no país, e a preparação deve se pautar sempre pelos mesmos paradigmas de qualquer outro certame, não importando, para fins da sua aprovação, qual será o número de inscritos e a relação candidato/vaga. Se prepare, sempre, para se sair bem na prova e para ser aprovada dentro do número de vagas para nomeação (ou ainda para possuir uma classificação boa para eventuais nomeações dentro do prazo de validade do concurso). E jamais por ser mais ou menos concorrido. Na prática, mais de 50% dos inscritos realiza a prova sem ser concurseiro sério. As estatísticas, nesses casos, são equivocadas e não servem como parâmetro. Quanto às disciplinas que serão cobradas pelo certame, tenha sempre em mente que o edital do Concurso Público deve ser lido integralmente. Lá você encontrará informações de extrema relevância para o seu projeto de estudos como as matérias que necessita estudar, o número de questões por disciplina, o peso da cada uma delas na avaliação de desempenho, se há ou não prova escrita, entre outros. Procure se informar sobre o edital do Concurso que deseja e colha as informações que necessita para organizar seus estudos. Quanto ao sistema de avaliação da Banca Examinadora FCC eu sugiro que você pesquise os últimos concursos realizados pela mesma e note, a partir de observação própria, se o conteúdo dos questionamentos é mais voltado para a utilização de textos doutrinários ou legislação seca. Te adianto que sim, a FCC exige conhecimento aprofundado dos Textos Legais mas não unicamente de forma “decorada”. Em qualquer prova, realizada por qualquer Banca Examinadora, o raciocínio jurídico do questionamento será exigido. Cada vez “mais” significa “menos” decorar a Lei. A regra de exercícios vale para todas as organizadoras. Sem exceção. “rumo para os meus estudos, saber como eu posso estudar, quantas horas pra cada matéria, não precisa me informar TUDO, mas só uma dica que dê certo comigo...”: “então minha manhã, tarde, noite e madrugada estão totalmente disponíveis”. “um empurrão”: Bom, a leitora queria um rumo para os estudos, e eu espero ter auxiliado. Não existem técnicas ou norteamentos infalíveis e absolutos. Exigem dicas, utilizadas por concurseiros mais experientes, que funcionaram e podem te auxiliar em alguma ocasião. Mas devem ser experimentadas. E nunca empregadas indiscriminadamente. Repito: Aproveite as oportunidades de estudo que tem (e seus períodos livres) e monte um quadro de estudos e horários (aproveite o link de “pesquisas” aqui do Blog e procure artigos a respeito desses temas – pois há vários) responsável e se organize! Vá a fundo em seu projeto, sempre com humildade de propósito e muita disciplina. Entenda, XXX (e demais leitores que, eventualmente, passam pelo mesmo) que a única responsável por sua aprovação é você mesma, e para que isso ocorra é imprescindível que se conscientize e aja, sabendo que toda iniciativa tem um preço. RESUMO DA ÓPERA - Me parece que você tem um terreno fecundo para plantar seu sonho. Me parece também que detém os instrumentos de arado devidos. Agora eu pergunto: Você quer plantar? Ana Paula de Oliveira Mazoni é uma concurseira que agora pode planejar melhor seus estudos. DICA DO CONCURSEIRO SOLITÁRIO
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