Tenho um primo que ano passado prestou um concurso para agente penitenciário do sistema prisional mineiro. O problema é que o cara não tem nem de longe o perfil desejável para quem vai trabalhar nesse ramo da administração pública. Conversei com o cara sobre o assunto, assim como outros tantos parentes, mas ele insistiu e tomou posse do cargo, que acabou exercendo por exatamente 45 dias antes de pedir exoneração.

Um amigo, também recentemente, passou e foi contratado no último concurso promovido pelos Correios para carteiro. O problema é que além de estar acima do peso ideal, o cara sempre foi a essência do sedentarismo, daqueles de ir na padaria da esquina de carro. Resultado, não durou quinze dias e pediu demissão (afinal, era um emprego público).

Pois bem, ontem foi publicado o edital de um grande concurso público no estado de São Paulo. Segundo o CorreioWeb:

Polícia Civil de São Paulo abre 484 oportunidades para cargo de escrivão

A Polícia Civil de São Paulo (PCSP) abriu novo concurso público com oferta de 484 oportunidades para cargo de escrivão, que exige formação de nível superior. Do número total de vagas, 25 são destinadas a portadores de necessidades especiais. O edital foi publicado no Diário Oficial da SP desta segunda-feira (1/3), na página 174 da seção I.

De acordo com o documento, a remuneração básica para o cargo é de R$ 2.206,56. As inscrições poderão ser feitas dos dias 8 a 19 de março, no site www.nossacaixa.com.br. A taxa de participação é de R$ 54,19. Os inscritos passarão por provas objetivas, prova escrita, avaliação oral e títulos. Haverá também os testes de aptidão física e psicológica.

Além disso, há também o concurso para mais de 4.000 vagas de recenseador do IBGE.

Pois bem, ambos concursos requerem muito cuidado dos concurseiros quando da análise dos prós e contras de prestá-los ou não, a fim de que não engrossem as fileiras ocupadas por meu primo e pelo meu amigo ex-carteiro. Explico.

Meu primo rachou fora do cargo de agente penitenciário porque "não é para mim esse negócio de ficar lidando com bandido para ganhar a vida". Meu amigo rachou fora do cargo de carteiro porque "não tenho físico para ficar andando o dia inteiro debaixo de sol ou de chuva entregando cartas". Agora, escrivão de polícia também lida com bandidos (em geral). Recenseadores também andarão o dia inteiro debaixo de sol ou de chuva fazendo as entrevistas do censo 2010.

Uma coisa, gente, é querer algo e outra coisa é como lidar com ela quando a conseguimos. É a velha história do "cuidado com o que você deseja, você pode conseguir". Tem gente que deseja ser famoso, entra no BBB, descobre que vida de famoso é um inferno, depois fica naquela frescura de não querer dar entrevista, de não querer paparazzis por perto e tudo o mais. tem gente que deseja ser rico, consegue, daí fica naquela de que "dinheiro não me trouxe felicidade" ou "não tenho mais liberdade". Da mesma forma há muitos concurseiros que desejam passar e ser empossados, não analisam direito os concursos e cargos para que prestará prova, passa, é empossado (ou contratado) e então acaba "pedindo pra sair" pouco tempo depois porque "esse trabalho não é para mim".

Tudo bem que estudo nunca é perdido, concordo plenamente, mas passar, sem empossado e então pedir exoneração (ou demissão) pouco tempo depois é muito frustrante ... e não foram poucas pessoas que me disseram isso, não. "Nossa, Charles, se a sensação de derrota ao não passar em um concurso é ruim, pedir exoneração porque você não se adequou a um cargo, sabendo que voltará aos estudos, é muito, mas muito pior", confidenciou-me uma amiga não faz muito tempo.

Resumo da ópera - Muito cuidado com os concursos que você presta, a fim de não descobrir tarde demais que aquele cargo não é para você e então ter de "pedir pra sair".

Charles Dias é o Concurseiro Solitário.

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