Desafios

São exatamente 5:30h da manhã enquanto eu lhe escrevo essas palavras dentro de um taxi à partir do meu smartphone. Estou a caminho de uma indesejável viagem em família para São Lourenço durante esse período de carnaval. Não sei para você, mas carnaval para mim é um dos piores períodos do ano. As pessoas tendem a ficar mais violentas, eu perco muito dinheiro, já que é um momento muito devagar para o meu ramo, o comércio fecha sempre mais cedo (isso quando abre), os bancos ficam sem cédulas nos caixas eletrônicos já que todo mundo saca desesperadamente, como se o mundo fosse acabar. O indesejável na verdade não é estar com a família, mas o carnaval em si. Comigo na mala eu levo meu diário, minhas duas câmeras, Martin Heidegger, Lou Marinoff e até Deepak Chopra. Levo também algumas induções hipnóticas gravadas pelo psicólogo e amigo, André Percia. Enfim, trago comigo todos os elementos escapistas que o trabalho pode me proporcionar e como amo o que eu faço (cá entre nós eu to virado sem dormir e to escrevendo para você) a viagem acaba por fim deixando de ser indesejável e passa até a ser algo mais lúdico.

Acabo de me lembrar que eu esqueci o dicionário em casa. Espero que no hotel tenha pelo menos wi-fi, sabe como é, nem sempre o 3G funciona de modo adequado. Sobre o que eu falava mesmo? Ah, o carnaval. Vou pular para o próximo parágrafo.

O carnaval é isso, festa, exageiros, alegrias, ilusões, crimes, novos amores, velhos amores. Tudo misturado e ao mesmo tempo. É um turbilhão de eventos ao prazer das paixões mundanas. O mais importante aqui é saber que o carnaval só consegue se impor pela data, mas jamais conseguiria se impor sobre a nossa tomada de decisão em fazer parte dele. Para mim é enorme prazer e satisfação não participar do carnaval, já que eu posso usar todo o seu período para crescer profissionalmente e espiritualmente. Se hoje eu estivesse prestando concurso público, para a docência universitária no caso, que é a minha meta, não pararia de estudar por nada nesse mundo. Me considero um homem muito obstinado.

Heidegger diz algo muito interessante sobre vocação em seu livro intitulado "Introdução à Filosofia". Segundo ele, "Por vocação profissional compreendemos a tarefa interna que o ser-aí reserva para si no todo e no essencial de sua existência." fica claro que vocação profissional é uma das atividades do ser-aí e que ela, Heidegger explica mais à frente, acabará implicando mais tarde numa liderança discreta. Ele é muito claro e diz que essa liderança não tem nada a ver com um cargo ou uma ascenção social, mas vir a ser um modelo dentro da convivência com o outro. O conceito de ser-aí define-se pelo homem no cotidiano. O homem no agora. Por minha conclusão, ela é uma força irresistível e que se apresenta de tal modo que não há nada que façamos para poder evitá-la. A vocação é como uma mulher lindíssima que começa a te flertar, com o agravante que ela ainda tem exatamente todos atributos que você considera altamente sedutores. Fora o fato de que você pode perfeitamente se casar com ela, e se quiser, ela será a mulher ideal. Para as meninas, o marido perfeito. Vocação é isso.

Agora fica a pergunta, você dispensaria o parceiro ou parceira dos seus sonhos por um bloco de carnaval? Se o concurso público o qual você está prestando está diretamente atrelado a essa história de amor, nós dois sabemos qual será a tua resposta. Agora se o teu amor não é lá tão forte assim, o carnaval certamente será mais convidativo. Entre o carnaval e a minha vocação, eu fico com a minha vocação. Agora se ela quiser me le levar para a folia, eu me trajo de arlequino e saio com a minha colombina.

Eu não quero entrar num discurso que certamente todo mundo fala, "estude durante o carnaval para aproveitar os outros carnavais". É, pode ser até legal, mas faça-me o favor, isso facilmente pode ser rechaçado pelo simples pensamento: vou curtir a vida agora, outros carnavais virão, mas esse nunca mais voltará. Legal. Mas se de fato você ama a sua vocação certamente não seria bom abandonar o seu amor somente para o seu prazer. Nesse caso concurseiro, ir para o carnaval é egoísmo duplo.

Sucesso!

Eric Gerhard

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