COLUNA DA CONCURSEIRA CRÔNICA - Essa guerra é sua?

Os concursos públicos, outrora opção de alguns, hoje se tornaram solução de multidões. O princípio administrativo da impessoalidade dá a todos que correspondam aos pré-requisitos necessários o direito isonômico de ocupar um cargo público; as únicas possíveis distinções nos concursos se destinam a tratar desigualmente os desiguais, dando oportunidades eqüânimes a todos. Não tenho dúvidas de que esses dois aspectos são os que mais ajudam a engrossar a fileira dos concursandos que, por algum motivo, não encontraram espaço na iniciativa privada. Apesar da competição cada vez mais acirrada, “somos todos iguais essa noite”, como diz a canção.

A questão que realmente vem me inquietando é outra. Quando passeio em fóruns e comunidades de relacionamento de concursandos e leio determinadas colocações, caio invariavelmente na mesma dúvida: quantos dos atuais postulantes a cargo público realmente se identificam com a “coisa” pública? Não falo de passar em concursos, mas de algo bem mais sério, que é o pós-concurso. Talvez hoje eu esteja na contramão do objetivo do nosso blog, que é discutir a guerra dos concursos, todavia acredito que a aprovação é apenas uma batalha – a primeira e mais dura. Depois dela, a guerra continua, e só quem já teve convivência íntima com o serviço público sabe dos percalços do caminho de um servidor do Estado. A estabilidade e os salários muitas vezes superiores ao mercado, atrativos principais, podem se transformar rapidamente em algo muito pequeno para quem não tem paciência ou fleuma para lidar com inconstâncias políticas, falta de infraestrutura, morosidade em tomar decisões e necessidade de realização de novo concurso para ascensão profissional, independentemente de seu esforço pessoal. Claro que, na atual conjuntura, dificilmente veremos alguém pedindo exoneração para retornar à iniciativa privada, mas isso não quer dizer que o funcionário esteja plenamente satisfeito em seu cargo... ele pode simplesmente ter se acomodado. Lidar com a insatisfação e fazer o melhor possível com os recursos de que dispõe é, sim, o grande desafio.

Por essas e por outras razões que, antes de optar por estudar para concursos públicos, vale fazer uma boa reflexão. É isso mesmo que você quer? Deseja mesmo direcionar sua vida profissional para essa seara, abrindo mão de ter seu próprio negócio e, talvez, enriquecer? Tem perfil para trabalhar no serviço público? Ao contrário de uma empresa particular, a Administração não avalia esses aspectos. A decisão é sua. Pensar bem antes de comprar essa briga trará benefícios não só a você, que pode evitar um passo errado, mas também à coletividade, que é a principal prejudicada pela existência de um servidor desestimulado ou coisa ainda pior. Pra vocês terem uma idéia, participei recentemente de um concurso com suspeitas de fraude (que acabaram se confirmando) e vi diversos candidatos classificados agredindo verbalmente quem lutava pela transparência do processo seletivo, enquanto outros, eliminados, publicavam dados pessoais de supostos “fraudadores” sem a menor distinção, requerendo anulação a qualquer custo, com o claro objetivo de ter outra chance. Francamente, é esse o comportamento que se espera de alguém que quer se tornar agente público? Pleitear em benefício próprio, à revelia do certo? Claro que nenhum de nós é a personificação da virtude e todos devemos lutar por nossos objetivos, só que isso não pode ser feito em detrimento da moralidade administrativa. Se trilharmos esse caminho, só conseguiremos alimentar ainda mais o preconceito contra o servidor público, o estigma do “barnabé”, que não trabalha durante 30 anos para então se aposentar com bons proventos.

Não quero desestimular ninguém e sei que o tema é chato, mas tenho certeza absoluta de que discuti-lo é necessário. Das poucas aulas em cursinho que assisti, vi professores reiterando que funcionário público “não faz nada”, como forma de estimular os alunos a passarem em concursos. Achava repugnante ouvir esse tipo de discurso. Esse ranço precisa acabar. Está nas nossas mãos, futuros servidores, a responsabilidade de melhorar a imagem do serviço público, e a mudança começa pela compreensão do papel que exerceremos – ou não – nesse processo.

Resumo da ópera - Concursos públicos oferecem vantagens que enchem os olhos de quem pena ou já penou na iniciativa privada. Entretanto, prestá-los de forma consciente é necessário, sob pena de prejudicar a Administração e a própria vida do novo servidor.

Flávia Crespo é a concurseira crônica.

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7 Response to "COLUNA DA CONCURSEIRA CRÔNICA - Essa guerra é sua?"

  1. Unknown says:

    O tema não é chato, Flávia.
    Concordo plenamente com você.

    Parabéns pela iniciativa!

    Um abraço

    Quem disse que servidor público não trabalha está muito enganado! Eu sou servidor público municipal, já trabalhei por cinco anos -cargo em comissão- no Estado e sempre trabalhei, e muito! Há pessoas que ainda pensam como o professor do cursinho. Servidor público é moleza! Não faz nada! Apenas bate papo e passeia nos corredores da repartição. Atualmente, a história é outra. Não tem moleza, ou vc mostra serviço ou não consegue ultrapassar os 3 anos do estágio probatório.
    Parabéns pelo artigo Flávia!
    Abs.

    Anônimo says:

    Parabéns pelo post, Flávia!

    Acho muito importante sim abordar esse tema. Muitos vivem dessa ilusão toda que vc falou, quando a história é bem diferente. É imprescindível olhar esse outro lado do concurso para não haver muita decepção depois.

    Abraços, Helineide

    Raquel says:

    O assunto para alguns pode ser até chato ou um balde de água fria, mas eu vejo que ele é muito importante. O serviço público mudou e muito. Na minha época de estagiária no judiciário eu já observei que havia muito trabalho, muita cobrança e metas a serem atingidas.

    Sugiro até o mesmo pensamento às pessoas que cursam Direito por não saberem o que fazer ou por estarem em busca de uma dita felicidade. Peço que pensem direitinho sobre essa escolha. Muitas dessas pessoas não ficam felizes na profissão e nós, que a amamos, ficamos meio desmoralizados. Para tudo precisa existir um mínimo de vocação.

    Anônimo says:

    Como dizia minha avó: !Rapadura é doce mais não é mole não!" Assino em baixo.

    Essa guerra é minha e entrei pra ganhar. Ser servidor é uma opção de vida e não um plano de previdência.

    Realidade não faz mal a ninguém!

    Parabéns!

    Tiago Gomes

    Camisa 9 says:

    Assunto chato não existe, o que existem são chatos no assunto rs
    ou aqueles que não querem conversar mesmo por não saber e/ou não entender.
    De fato você pegou num tocante delicado, mas que deve ser abordado sim. Sempre pensei se era isso mesmo que queria, pensava no dinheiro, estabilidade, status e nos Cruzeiros da vida nas férias( né não amigo?!)não desmerecendo o sonho meu e nem o de ninguém, mas esses atrativos são excepcionais, contudo já pensei também que: - Aí meu Deus e se tentarem me subornar? E se alguma câmera tiver me filmando caso eu caia na tentação de parecer aquilo que não sou? Vocês me entendem? Eu não sou de ver "cag***" dos outros e ficar quieto. E se me ameçarem, sabem...essas coisas e pensamentos negativos me assombram às vezes. Mas eu irei pra cima assim mesmo.
    Serei um excelente FP (Funcionário Público) com letras maiúsculas!
    Todos nós seremos.

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