Paula Mazoni entrevista a Dra. Camila Turqueti

O intuito dessa entrevista é mostrar aos concurseiros, a partir da perspectiva correta (ou seja, de uma profissional com qualificação), que devemos cuidar de nossa saúde mental no ínterim do estudo para aprovação. Vários concurseiros nos escrevem demonstrando quadros depressivos e nos pedindo ajuda, e muitas vezes não sabemos o limite entre o estresse aceitável nas condições de pressão para o estudo que passamos e quadros patológicos que necessitam de ajuda profissional.

Espero que essa leitura possa ajudar aqueles que passam ou já passaram por isso. Aliás, caso tenham alguma dúvida ou precisem de mais alguma informação, escreva para nós ou diretamente à Dra. Camila Turqueti. Ela terá grande alegria em ajuda-lo!

Há impactos em nosso aprendizado quando possuímos uma rotina que não prima pela qualidade de vida? Porque cuidar do corpo é pressuposto para uma mente mais sadia e apta ao estudo?

Sim, a qualidade de vida que levamos influencia diretamente em nosso aprendizado e no resultado de processos seletivos, como vestibulares e concursos públicos. A ansiedade, o stress, poucas horas de sono e a auto-cobrança são fatores que podem prejudicar o desempenho dos estudantes no momento da avaliação.

Passar em exames como concursos públicos não é uma tarefa fácil, pois é preciso dedicar-se muito aos estudos. Mas é preciso ficar atento para que limites não sejam extrapolados. O estudante pode comprometer sua capacidade de assimilar o conteúdo caso fique longos períodos de tempo sem descanso. É importante que o estudante relaxe em alguns momentos para que não haja saturação de sua mente e até mesmo de seu corpo.

Cuidar do corpo e fazer exercícios físicos também é importante neste momento de preparação. Praticar exercícios regularmente traz uma série de benefícios: melhoram o humor, diminuem a ansiedade, previnem a depressão e estimulam a memória e aprendizagem. Concluímos então, que mente e corpo estão intimamente ligados, deste modo, cuidar da saúde física é cuidar da mente também.

Muitos concurseiros leitores passam por períodos de estafa mental, cansaço excessivo, noites mal dormidas e falta de vontade em seguir estudando. Outros ainda desistem após as primeiras derrotas em certames e deixam de estudar e se preparar. São circunstâncias normais ou sintomas relevantes? A partir de que momento eles se tornam preocupantes?

É fundamental que o candidato esteja ciente do elevado grau de dificuldade em passar em concursos públicos e que toda essa preparação acaba tornando-se um investimento a longo prazo. Muitos estudantes passam anos se preparando até passarem nestes exames, com certeza não foram aprovados em muitos concursos que tentaram e passaram por momentos de desânimo até alcançarem seu objetivo. Lidar com a frustração é um desafio para todos nós. Por vezes nossos objetivos parecem ser inatingíveis, nos sentimos desanimados e sem vontade de seguir em frente. A partir do momento em que esse desânimo se prolonga e esse sentimento nos deixa paralisados, é importante ficar atento! Se a rotina de estudos ou o não cumprimento dela começa a gerar um sofrimento excessivo é aconselhável procurar a ajuda de um profissional.

Qual a importância de possuir uma meta de estudos? Como elas devem ser? De curto, médio ou longo prazo?

Para qualquer atividade que nos propomos a executar é importante ter planejamento e organização. As metas norteiam a caminhada rumo aos objetivos que desejamos alcançar.

Não existe uma meta ideal para todos os estudantes, existem metas adequadas à realidade particular de cada um. Por este motivo, é importante que o estudante conheça suas potencialidades e limites, e, a partir daí elabore suas metas de curto, médio e longo prazo. É importante levar em consideração quantas horas de sono você precisa dormir por dia (lembrando que isso varia de pessoa para pessoa), quantas vezes por semana você irá reservar para cuidar de sua saúde e bem estar, qual a rotina de estudos é a mais eficiente e eficaz para você em particular (algumas pessoas preferem estudar de noite, outras pela manhã, algumas preferem estudar durante horas sem interrupção, outras preferem fazer uma pequena pausa a cada hora). Por exemplo, existem pessoas que atualmente exercem outras atividades profissionais e estudam no resto do tempo que lhes sobram. Neste contexto, não adianta ter como meta a curto prazo estudar 6 horas por dia. Não há tempo hábil para isto. Estipular metas que vão além de sua realidade pode gerar angústia e stress, prejudicando assim, o desempenho nos estudos e nas provas dos concursos.

Como lidar com o estresse de ainda não ter sido aprovado para se manter focado nos estudos?

Quando nos preparamos para qualquer tipo de processo seletivo, a expectativa de sermos aprovados é grande. Mas não podemos negar que a dificuldade e o tempo que leva-se para a tão sonhada aprovação são grandes também. As pessoas possuem diferentes níveis de resiliência (capacidade de lidar e superar perdas e frustrações). Algumas reagem melhor e superam estas frustrações com maior facilidade, outras demoram um pouco mais para reagir e retomar sua caminhada. Algumas pessoas certamente precisarão de ajuda de um profissional em determinados pontos desta caminhada, mas nem sempre é fácil reconhecer que sozinho não é possível continuar. Esta é mais uma barreira a ser vencida!

Concursos são provas de conhecimentos técnicos, mas acredito que são também provas de resistência emocional. Desta forma, estar bem preparado emocionalmente é imprescindível para um resultado satisfatório.

O que você diria aos leitores que, hoje, estudam para Concursos Públicos? Que dicas poderia nos dar?

É possível evitar o esforço exagerado e desnecessário fazendo um planejamento dos estudos e reservando momentos para o lazer.

Vocês devem estar pensando “falar é fácil!” não é mesmo?! Reconheço que muitos concurseiros estão cientes de que relaxar é importante e que colocar em prática esta tarefa nem sempre é simples. Acredito que é importante ter disciplina para os estudos e é igualmente importante ter disciplina para o lazer e para momentos para cuidar de si. Reserve tempo para ir a academia, passear no parque, sair com os amigos, assistir a um filme, enfim, fazer atividades que proporcionem momentos de prazer. Mas lembre-se, enquanto estiver nesses momentos descontraídos, aproveite-os sem culpa! Não fique pensando que talvez fosse mais proveitoso estar estudando. Tenha em mente que esses momentos fazem parte de sua preparação para a prova.

Reconheço que existem momentos em que o sofrimento é grande e parece que não conseguiremos sozinhos, e às vezes não é possível seguir sozinho mesmo. Nesse momento é interessante buscar a ajuda de profissionais capacitados, como psicólogos, para que sua caminhada se reestabeleça de maneira saudável e eficiente.

Camila Turqueti é psicóloga graduada pela Universidade Federal do Paraná. Atende em consultório particular em Curitiba. Para mais informações, entre em contato pelo email contato@camilaturqueti.com.br

ANA PAULA DE OLIVEIRA MAZONI é concurseira por vocação.

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