Saber separar o joio do trigo

Hoje farei uma pausa na série de artigos que venho escrevendo sobre as palestras que assisti no final de semana passado, para falar de uma verdadeira praga que grassa no meio concurseiro, causa da falta de motivação e até de desistência para muitos concurseiros.

Freqüento alguns dos fóruns sobre concursos públicos que há na Internet por serem pontos de reunião e troca de informações de concurseiros do Brasil inteiro, ótimos para colher material interessante de estudo, se manter atualizado sobre o que está acontecendo no meio e, claro, ajudar a manter a motivação (estar no meio de gente que estuda forte é um incentivo para também estudar forte). Pois bem, dias atrás alguém postou em dois ou três desses fóruns a mesma pergunta. A pessoa estava encontrando dificuldade para se disciplinar e criar uma rotina de estudos que realmente a preparasse para concursos públicos, e pedia dicas e orientação de como fazer. Começaram a surgir respostas e entre elas afirmações do tipo:

- “Eu estudo doze horas por dia com somente um intervalo de meia hora”;

- “Primeiro você tem de comprar a melhor bibliografia, que não vai custar menos de R$2 mil”;

- “Se você não fizer um cursinho dos bons, está perdido, não vai ter chance de passar”.

Claro que lendo coisas assim, não só o autor do questionamento quanto vários outros concurseiros menos experientes entraram em pânico. Afinal de contas, não são muitos que podem freqüentar os melhores cursinhos, gastar uns sete salários mínimos em livros logo de cara e, não bastasse, estudar 12 horas diárias. Daí surgiram comentários como:

- “Mas eu trabalho o dia inteiro, posso estudar somente quatro horas por dia”;

- “Eu não tenho todo esse dinheiro agora para gastar com livros e apostilas”;

- “Eu moro no interior e aqui não tem cursinho para concursos públicos”.

Chamo isso de “teatro dos concurseiros” e esses são dois personagens. Os vilões, que estão fazendo terrorismo dizendo bobagens, e os ingênuos, que acreditam nessas bobagens sem duvidas delas. Claro que essa peça não é inédita, ela vem sendo representada desde o tempo em que os homens viviam nas cavernas, por isso mesmo sábios de todas as culturas já disseram e escreveram sobre os perigos de fazer parte dessa encenação. Tomemos um ensinamento a esse respeito que ouvimos desde crianças, mas que a maioria nunca usa na prática.

“O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio" (Mateus 13:24-26).

Para quem não sabe, o joio (Lolium Temulentum) é considerada uma erva daninha nas regiões produtoras de trigo da Europa, Ásia e Oriente Médio, pois é uma gramínea muito parecida com trigo que se confunde com ele durante a fase de maturação, mas que quando amadurecesse produz sementes negras. Se o joio não é extirpado antes da colheita, será um trabalhão separar as sementes depois de colhidas. Por isso mesmo o joio era usado como um tipo de arma em tempos antigos, sendo semeadas nos campos dos inimigos para sabotar suas reservas de alimentos e, conseqüentemente, enfraquecê-lo.

Fazendo uma analogia, quando um concurseiro posta uma pergunta em um fórum ou lista de discussão, está semeando trigo com a intenção de colher mais trigo, ou seja, respostas sérias que o ajudem a resolver seu problema. Só que tem gente que semeia joio na forma de respostas imbecis como as que exemplifiquei acima. Se o concurseiro que perguntou tiver um mínimo de bom senso, saberá separar o joio do trigo, as más respostas das boas respostas, e não terá problemas ... se não tem bom senso, colherá desespero.

Engraçado como algo tão básico, tão simples, não é feito pelos concurseiros que entram em desespero. Não vejo muitas desculpas plausíveis para essa ingenuidade, mesmo porque temos problemas de “joio no trigo” sempre em nossas vidas, desde crianças. Mas uma coisa é certa, o concurseiro que realmente quer ter sucesso, não encenará esse peça, seja como ingênuo ou vilão, porque sabe que não pode perder tempo precioso de estudos com bobagens desse tipo, que não levam a lugar algum.

Resumo da ópera – Saiba separar o joio do trigo.

- “Eu estudo doze horas por dia com somente um intervalo de meia hora”;

>>> Pode ser que uma ou outra pessoa realmente faça isso, mas é algo raríssimo. A maioria que diz coisas desse tipo estão se enganando, querem enganar aos outros ou ambos. Alguém que diz que estuda 14 ou 15 horas por dia está se referindo a horas brutas de estudo, ou seja, não estão descontando as paradinhas para ir ao banheiro, tomar água, pegar material e por aí vai. Par entender melhor, leia um artigo passado que escrevi sobre horas líquidas de estudo. Só para exemplificar, uma menina me mandou um email dias atrás dizendo que começou a usar o método de contagem de horas líquidas de estudo que expliquei e que só então ela viu que as 8 horas diárias de estudo que ela fazia eram horas brutas, que na verdade estudava efetivamente entre 5 e 6 horas diárias.

- “Primeiro você tem de comprar a melhor bibliografia, que não vai custar menos de R$2 mil”;

>>> Tudo bem, tem muita gente que faz isso, bom para elas. Primeiro porque material demais só atrapalha, segundo porque material de estudo para concursos públicos não é tão caro, terceiro porque há centenas de casos de ex-concurseiros, hoje já empossados em cargos públicos, que obtiveram sucesso estudando até com livros e apostilas de segunda mão, usados. Eu conheço pelo menos meia dúzia desses concurseiros.

- “Se você não fizer um cursinho dos bons, está perdido, não vai ter chance de passar”.

>>> Se fosse assim, somente seriam aprovados em concursos públicos os que moram e estuda nas grandes capitais concurseiras (Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, nessa ordem), onde há dezenas de ótimos cursinhos. Mas a realidade é muito diferente, há aprovados de cidades do Brasil todo e todos os concursos públicos, desde das grandes capitais às bibocas perdidas no mapa.

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DICAS

→ Português

USO DO PORQUE JUNTO E SEPARADO

→ Por que (separado sem acento).

Utilizamos esse formato para iniciar perguntas:

“- Por que fizeste isso?

→ Porque (junto sem acento)

Utilizamos esse formato para responder perguntas:

- Fiz isso porque era necessário.

→ Por quê (separado com acento)

Utilizamos esse formato no final de frases:

- Sabemos que você não compareceu à reunião, por quê?

→ Porquê (junto com acento)

Utilizamos esse formato quando o "porquê" tem função de substantivo:

- Se ele fez isso, teve um porquê (motivo)

2 Response to "Saber separar o joio do trigo"

  1. Anônimo says:

    Caro solitário,
    parabéns pelo blog, muito bom! Concordo inteiramente com vc. Diria mais, com o advento da internet, recebemos informações, artigos, apostilas, coisas demais. Corremos o risco de perder um tempo enorme lendo, sem chegar a um estudo efetivo.
    Passei em três concursos na minha vida: 7o lugar para TRF, da receita, sem cursinho, sem livros, só com a apostila da ESAF; 1o lugar no Brasil para técnico do MPU, sem cursinho, livros ou apostilas; 13o lugar para Auditor Fiscal do Trabalho, só com material que consegui na web, sem cursinhos, com dois livros mais aprofundados de doutrina.
    Abs

    Anônimo says:

    Caro autor,

    Suas palavras são de um bom senso impecável. Hámuits pessoas que estudam e trabalham e passam em concursos... com certeza para elas o caminho é mais difícil,mas não é impossível...

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